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Together we stand, divided we fall?

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Este texto não objetiva explorar ou apresentar, com rigor técnico, as implementações a serem realizadas pelo BCH ABC ou pelo BCH SV, mas propõe uma reflexão sobre uma nova realidade democrática descentralizada.

A revista MIT Technology Review abordou, em sua edição de maio/junho de 2018, o tema blockchain. A capa é uma obra-prima da precisão: exibe a indicação do futuro do blockchain na intersecção de dois blocos, hype e hope.

A mensagem é clara: aqueles que sobreviverem ao hype e conseguirem manter os pés no chão diante de tamanha esperança farão parte do futuro.

Em seu elegante whitepaper, Satoshi Nakamoto delineou os principais parâmetros de um ativo descentralizado, imune a censura. A partir de então, várias implementações em blockchain foram concebidas, mas o estágio atual da tecnologia ainda é embrionário.

A partir da criação do bitcoin, também surgiram as críticas ao protocolo, envolvendo, principalmente, escalabilidade, lentidão da rede e volatilidade do preço[1].

O movimento natural da rede é solucionar tais questões, tudo no propósito de disserminar o uso do ativo na realização de transações comerciais.

Entretanto, a evolução tecnológica, via de regra, não é alvo de ampla discussão quanto aos objetivos e linhas de atuação.

Esse cenário pode começar a mudar com os criptoativos.

Em linhas gerais, para que a rede de um criptoativo possa ser atualizada com novas implementações (que superem sua lentidão, o restrito número de transações, etc.), faz-se um fork[2].

Assim, em agosto de 2017, ocorreu um fork na rede bitcoin, do qual emergiu o bitcoin cash.

Recentemente, em 15 de novembro, houve um novo fork, dessa vez no braço do bitcoin cash.

Entretanto, há duas vertentes de alterações no protocolo “competindo” entre si. Quem prevalecerá? Em linhas simples, aquele que lograr minerar a cadeia mais longa de blocos[3].

Nesse ponto é possível observar que, na disputa entre os dois caminhos disponíveis, o apoio da rede e daqueles que, de algum modo, vislumbram a criptoeconomia como o futuro das transações comerciais, é realizado mediante o franqueamento de poder computacional para uma das correntes de pensamento. Então, quem conseguir manter a maior proporção de poder computacional produzirá a maior cadeia de blocos e verá suas implementações se consolidarem na rede[4].

Há várias formas de obter o poder computacional. Porém, se pensarmos em termos de máquinas dedicadas à mineração, bem como que pessoas podem subvencioná-la, verifica-se que o meio para deliberar sobre o funcionamento da rede é deter tal poder, que transitará entre as diferentes proposições de funcionamento e implementação, a depender das convicções dos envolvidos em tal atividade.

Dessa forma, não é demais dizer que, além de os próprios criptoativos serem manifestação de liberdade de expressão, a própria mineração também o é.

Assim, observa-se que a “democracia” no ambiente de um criptoativo é exercida em dois âmbitos: previa e concomitantemente ao fork — por quem detiver a maior proporção de poder computacional; posteriormente ao fork — aqueles que não concordarem com as implementações que estiverem sendo executadas podem deixar de adotar o ativo para a realização de suas transações [5].

Talvez, dada a atenção que este fork em particular está recebendo da mídia, esta seja a primeira oportunidade na qual seja possível observar a manifestação inequívoca de opinião com relação aos rumos de determinado criptoativo enquanto ela acontece. A importância dessa observação reside em perceber motivações, objetivos, coerência e as reações a esses movimentos, dentro e fora da rede.

De outro lado, o processo democrático dos forks — apesar de surpreendemente eficiente — não se isenta de desvantagens.

A rede é tão mais forte quão maior for o seu poder computacional. Com duas vertentes disputando entre si tal liderança, ambas se enfraquecem e se tornam mais sujeitas a, por exemplo, ataques de 51%[6].

Ademais, um criptoativo é tão mais sólido quanto mais disseminada for sua aceitação na realização de operações quotidianas. Não bastasse, é necessário questionar se a concorrência de inúmeros criptoativos, alguns sem função alguma, não necessariamente intercambiáveis hoje em dia, é interessante para o ecossistema.

Diante desse cenário, verifica-se que apesar de a evolução tecnológica não ser, em regra, democrática, estamos vivendo um grande momento para observar se as redes descentralizadas de blockchain reconfigurarão a participação e a forma de tomada de decisões nessa área.

 

[1] A volatilidade no preço do bitcoin foi um dos aspectos que atraiu grande número de investidores e desviou o criptoativo de sua finalidade de ser um dinheiro eletrônico ponto a ponto.

[2] Fork traduz-se como “garfo” e há soft forks e hard forks, distinções irrelevantes para o presente texto.

[3] Anoto que, durante a elaboração deste texto, algumas exchanges listaram BTC ABC.

[4] Há outros aspectos a serem considerados para avaliar a qualidade de uma cadeia de blocos, como densidade dos nodes, apoio do ecossistema, adoção, etc.

[5] Note-se: possuir um ativo, indefinidamente, sem o objetivo de efetivamente realizar transações, não permite avaliar a sua relevância, sob uma perspectiva política ou econômica, apenas especulativa.

[6] Em tese, se alguém detém 51% do poder computacional de uma rede, ela poderia ser submetida ao seu controle.

 

Por Renata Baião

Fonte: https://www.lexmachinae.com/2019/01/21/together-we-stand-divided-we-fall/

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