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#50: DE UM ESCRITÓRIO TRADICIONAL PARA UM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA INOVADOR – C/ SHEILA SHIMADA

Publicado em
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Publicado por Gabriel em 13 de maio de 2020 | Atualizado em 8 de maio de 2020

28 minutos para ler

Você quer saber como tornar o seu escritório de advocacia inovador?

Como transformar um escritório tradicional em um escritório tecnológico? 

Quais são as mudanças necessárias? 

Como manter a equipe engajada e motivada? 

Como encontrar a tecnologia ideal para o seu escritório? 

No episódio # do Laywer to Lawyer, o podcast da Freelaw, Gabriel Magalhães entrevista Sheila Shimada.

Gabriel: Olá advogado, olá advogada, sejam bem vindos ao episódio #50 do Lawyer to Lawyer.

Estou muito feliz, é um episódio cheio e comemorativo e estamos recebendo a Sheila Shimada para participar conosco. 

Hoje o tema é: “De um escritório tradicional para um escritório tecnológico”, como você pode transformar um escritório tradicional em um tecnológico.

Quais as mudanças necessárias, como você pode manter sua equipe engajada e motivada, como você encontra a tecnologia ideal para o seu escritório de advocacia, quais ferramentas deve usar? 

Tenho muito prazer em falar com a Sheila, pois acompanho o trabalho dela virtualmente e nos conhecemos até pela própria página da FreeLaw.

Eu acho legal que ela produz muito conteúdo, utiliza tecnologias, usa o LegalDesign, veio de um escritório tradicional e depois montou o seu próprio utilizando tecnologia. 

O currículo dela é invejável, ela é advogada especialista em direito societário e é professora de Direito Empresarial do Gueta SP, lá da USP, ela também é professora da Escola Superior de Empreendedorismo do SEBRAE e é sócia do Shimada Advogados. 

A Sheila é formada na Mackenzie e é pós-graduada em Direito Processual Civil na PUC-SP, tem extensão em tributação de estruturas e nos negócios societários. A Sheila fala inglês fluente, e também tem o mandarim básico. 

Seja bem vinda, Sheila, como fala bem vindo em mandarim?

Sheila: Obrigada Gabriel, bem vinda eu não me lembro no momento, mas obrigada é “Shishi”. É tão difícil falar mandarim, eles colocam o verbo no fim da frase.

Como tornar seu escritório de advocacia inovador

Gabriel: Legal Sheila, conta um pouquinho para a gente dessa trajetória. Quais traumas você tem de escritórios tradicionais, como você me falou antes de começarmos.

De que forma você decidiu criar o seu escritório? Como o transformou em um escritório mais tecnológico?

Sheila: Olha, os meus traumas com escritórios tradicionais não estavam tão relacionados com a questão da digitalização, mas sim com a hierarquia, porque eu não entendia muito bem o motivo do estagiário não ser ouvido se ele tinha boas ideias, só porque ele era novo. 

Não entendia muito bem porque você não tinha acesso ao seu líder ou porque era tão difícil chegar em um advogado e ter um contato mais próximo, eu não entendia muito bem a arrogância que a maioria dos advogados tinha. 

Eu amava a ciência do Direito, mas eu não amava a postura do advogado, então a minha dificuldade estava muito mais na institucionalização do profissional do Direito, como ele se comportava na maioria dos momentos – principalmente no mundo corporativo – do que na ciência. 

Agora, com relação à digitalização do escritório, eu enfrentei quando já tinha aberto o escritório e eu passei por uma cena muito específica.

Tinha uma cliente com quem eu trocava muitos e-mails e após dois anos de ela ter ingressado uma ação comigo, ela alegou ter me entregado alguns documentos e eu respondi que não, que nunca tinha recebido tais documentos, ela reafirmou que sim, que havia deixado na portaria do meu prédio.

Então ficou aquele bate-boca e eu falei assim: “Eu tenho certeza que você não me entregou”, a resposta dela foi ressaltando o envio de um e-mail, onde ela avisou que iria entregar os documentos na portaria do meu prédio e isso foi o que me salvou.

Assim, eu imprimi os e-mails de dois anos e fui à delegacia abrir um boletim de ocorrência de preservação de direitos.

Ao chegar lá eu estava carregando o equivalente a cinco pacotes de A4, todos impressos, o delegado não quis abrir um boletim de ocorrência, justificando que aquilo não era caso para abertura e eu tive que chamar a Comissão da OAB para falar que o delegado não estava atendendo uma advogada, passei o dia inteiro na delegacia e foi um saco.

Dessa forma, decidi que não receberia mais documentos de clientes, nunca mais, mas depois repensei e vi que não valeria a pena ser tão radical, então eu só receberia documentos digitais.

Logo, desde 2013, logo que eu decidi não receber mais documentos físicos de clientes e coloquei isso como uma regra no escritório. A partir disso começou a digitalização do escritório.

Gabriel: Muito legal, Sheila. Às vezes é um problema pequeno que nós transformamos em um problema grande, algo que a gente não consegue administrar.

E eu acho que a partir disso você já define qual o tipo de cliente que você quer atender, porque se o seu cliente não está de acordo com esse tipo de postura, que é a que o escritório de advocacia inovador quer, naturalmente você não vai trabalhar com ele e focar em outros tipos.

Sheila: Geralmente quando o cliente não consegue trabalhar com documento digital, ele vai chegar a outros tipos de problemas.

Logo, até mesmo para calcular horas você vai ter que contratar um estagiário para levar coisas no correio ou vai gastar tempo para contratar um motoboy e verificar que ele entregue tudo isso. 

Dessa forma, se isso tudo é custo para o escritório você precisa ver como administrar esses tipos de gasto e se quer ter que arcar com isso, o nosso não tem esse perfil.

Mudanças necessárias para tornar seu escritório de advocacia inovador

Gabriel: E assim, Sheila, quais são as mudanças necessárias para que um escritório saia do tradicional e se torne um escritório de advocacia inovador mais tecnológico?

Como começar a implementar práticas inovadoras ali dentro?

Sheila: Olha Gabriel, eu te falo, ninguém muda se não mudar primeiro suas convicções internas. 

Assim, a primeira coisa que  você deve mudar no escritório para que ele seja um escritório de advocacia inovador é uma I7.

Porque não adianta nada comprar a melhor tecnologia se ninguém sabe mexer, contratar uma assessoria para instalar um software de última geração, se você está com uma equipe que não está disposta a ter uma mente aberta para entender a tecnologia, buscar e ser curioso. 

Para dar um exemplo, ao fazer uma visita a meu pai percebi que o telefone dele estava muito ruim, então comprei um iPhone de última geração para ele.

Duas semanas depois ele vem e fala assim: “Filha, estou te devolvendo o iPhone porque eu prefiro o meu antigo.”, então eu questionei o motivo e ele respondeu que não sabia mexer no iPhone. 

É um exemplo simples do que ocorreu com meu pai, mas acontece em todo tipo de lugar se as pessoas não estiverem abertas para receber e tecnologia. 

Assim, o primeiro requisito que eu vejo para qualquer escritório é que você tenha liderança, como conversamos um pouco anteriormente.

Essa liderança tem que estar aberta, as mentes precisam estar abertas para conseguir a introdução de tecnologias e conseguir inserir o mindset do time para receber o mundo digital.

O mundo digital é extremamente volátil, ele muda toda hora, por isso você deve entender que vai ter que reservar um tempo para analisar as novas oportunidades, estudar para desenvolver eventos.

Porque não adianta colocar um software maravilhoso hoje, 2020, e achar que ele continuará incrível no ano seguinte, só se você tiver sorte dessa empresa ser sempre maravilhosa. 

No entanto, mesmo se a empresa for, você vai precisar sempre comparar os concorrentes dela, deve observar se as necessidades do seu escritório não vão mudar.

Por isso você deve manter a mente aberta, que nada mais é do que escutar, escutar seu concorrente, o do software que você está contratando e os seus funcionários.

No nosso caso, para não perder tanto tempo, eu sou a sócia e mantenho minha mente aberta.

Gabriel: Só para dar um pouquinho mais de contexto, conta um pouquinho da área de atuação do escritório e do perfil dos clientes de vocês.

Sheila: Nós somos um escritório boutique, que antes de ser digital contava com nove advogados, mas agora passamos a ter uma equipe de três advogados com 40% a mais de clientes.

Assim, comecei a escalar inserindo tecnologia e desenhando o processo interno. Então, vou te dar um exemplo, nós fazemos o planejamento societário das empresas, que depende de sete passos. 

Para fazer as diligências da empresa – só fazendo um overview aqui – o cliente chega, nós fazemos a entrevista com ele, depois vemos as partes relacionadas, depois fazemos a due diligence dele para depois apresentar o diagnóstico de riscos, elaboramos os projetos e começamos a execução. 

Então, a parte de fazer o diagnóstico de riscos e os projetos deve ser feita por advogados, não tem como escapar, mas a due diligence, que é verificar quantos processos todas as empresas têm a nível Brasil, que é uma atividade investigativa, de tirar certidão e etc, é algo muito demorado que, se eu colocar pessoas para fazer, ele pode dar errado. 

Nesse contexto é que, quando eu vou fazer um processo de desenho da elaboração de cada serviço, busco identificar onde eu é indispensável colocar seres humanos e onde eu posso colocar robôs, busco loucamente um software. 

Às vezes a gente não encontra o software adequado, mas no escritório temos um lema que é: “Sempre tem um nerd pronto para desenvolver algo para você.”. 

Então, temos um grupo no WhatsApp onde a gente entra em contato com esse pessoal, um dia desses eu quase dormi na universidade com vários jovens de 20 e poucos anos, um mundo totalmente diferente e eu pensei: “O que eu tô fazendo aqui?”, mas é um tipo de mindset que eu tenho para achar softwares novos, novas tecnologias.

Quando eu achei esse software da due diligence eu paguei o preço de um advogado sênior, mas ele me possibilitou expandir o escritório de forma que hoje eu consigo concorrer com grandes escritórios.

Justamente porque hoje eu tenho um software que permite isso, eu robotizei uma área do meu escritório que é essencial.

Então basicamente eu acho que isso é necessário para tornar seu escritório de advocacia inovador. Não sei se responde a pergunta, mas o ideal é digitalizar uma parte essencial do seu escritório.

Gabriel: Eu acho que eu vejo duas questões, primeiro tem um pressuposto que você trouxe de início, a necessidade de uma liderança que apoie esse tipo de iniciativa, a tenha como prioridade – porque se não o projeto vai morrer, fica muito difícil -. 

Então, você que está escutando a gente, que trabalha em escritório de grande porte, a verdade é que se as lideranças do seu escritório não te apoiarem, é muito difícil conseguir mudar isso sozinho. Pelo menos eu acredito muito nisso.

Acho que é o tipo de coisa que tem que vir do topo e, com exemplo levar isso para baixo, mas ao mesmo tempo não pode ser hierarquia demais, porque pode causar trauma, até a Sheila já trouxe isso pra gente.

Sheila: Olha Gabriel, desculpa até te interromper, mas eu sou super conhecida sobre meu sincericídio. 

Então, se você ainda tá num escritório que ainda não se digitalizou, se a sua liderança não concretiza isso, repense a sua posição nesse escritório, pois ele não é um escritório que conseguirá sobreviver daqui a 5 anos. Você concorda? Não tem a menor possibilidade.

Gabriel: Não, com certeza. Eu acho que quando a gente compara um escritório que ainda está atrás do tempo com um que está tentando inovar, vemos nitidamente a diferença competitiva.

Porque se eu consigo entregar um produto – às vezes até melhor – com mais qualidade e agilidade, em menor tempo e custo que o meu concorrente, entregarei um serviço melhor para o cliente. 

Então não tem como outro advogado ou escritório concorrer comigo, por isso é importante pensar como a tecnologia pode nos aumentar o nosso diferencial competitivo.

O Direito e a advocacia especificamente é algo não escalável, você vende suas horas, vende serviço, e para você entregar um serviço chega um momento que você já tem o máximo de serviço possível e a única forma convencional de entregar mais serviço é aumentando o tamanho da sua equipe.

Mas você também pode utilizar automação, buscar outra ferramenta para te dar mais agilidade, ou seja, você consegue entregar mais, acho que isso que é a importância da tecnologia. Você concorda, Sheila?

Sheila: Eu concordo, e assim, eu acho que só para complementar, queria quebrar alguns paradigmas que eu mesma achei que não seria possível quebrar, então queria só avisar para você, colega de escritório pequeno como eu, dando um exemplo meu. 

Eu trabalho na área de M&A, eu tenho um escritório pequeno e novo, sou mulher e nova, são coisas teoricamente negativas para a área que eu estou, mas eu desenho todos os meus processos, escuto os podcasts da Freelaw – e fico chocada com a qualidade, pois paguei vários cursos nessas áreas – e vejo que a Freelaw sabe pegar na veia a dor que a gente sente. 

Então, comecei a fazer as mudanças do meu escritório e o que eu vejo? Paradigma um: O cliente quer resultado. E aí, no meu escritório, que tem apenas 50 metros quadrados, é uma gracinha de decoração, tem poucos advogados, mas ele é eficiente. Esse software que eu uso, por exemplo, eu coloco o nome da pessoa e na hora ele me fala de quem ela é sócia, quantas empresas ela tem, qual o faturamento, é uma ferramenta que me mostra todas as informações públicas do cliente. 

Tem que ter dinheiro para pagar, é um software caro pra caramba, mas ele é o software de grandes escritórios, mas ele te dá informações na hora, faz a due diligence na hora. 

Antes as pessoas cobravam 5 ou 10 mil reais por isso, hoje em dia, por eu ter um software, eu faço isso por 500 reais e entrego um bom serviço como nos grandes escritórios.

Então, quando vou falar para meu cliente e ele vê verdade, você acha que ele vai querer contratar quem? 

E aí eu falo, me dá uma chance para provar que minha qualidade é muito boa, quando ele percebe que a qualidade é tal qual aquele que cobra 10 vezes mais, ele fica encantado.

Gabriel: Uma questão assim, é que no direito sempre tem uma conversa que todos os advogados repetem, ela é importante, sobre a valorização do advogado e a gente, de fato, precisa lutar para valorizar a nossa profissão.

Só que esse discurso é utilizado muitas vezes de uma forma errada, para fazer com que advogados cobrem preços exorbitantes por serviços que podem ser feitos de forma muito mais simples. 

Se para um serviço já existe uma tecnologia que comoditiza um serviço que anteriormente era complexo, o preço dele vai cair e devemos cobrar um valor justo para os clientes.

Para criar uma relação de confiança com esses clientes e vender serviços caros apenas quando for mais estratégico. 

Eu por exemplo vendia um serviço “comoditizado” que antigamente era caro e agora eu vendo mais barato, quando consigo a confiança do cliente que se torna “fiel” começo a vender vários outros serviços por um preço mais caro. 

Então eu acho que às vezes falta esse tipo de análise, às vezes a gente tem muito medo de utilizar a tecnologia ao nosso favor, não sei se você concorda.

Sheila: Eu concordo principalmente porque assim, você vai cobrar pelo serviço de advogado, vai deixar o robô fazer o serviço de robô e o advogado fazer o serviço de advogado. 

Nessa questão você não precisa cobrar barato pela hora de advogado, desde que saiba desenhar o seu processo e cobrar pela sua hora efetivamente, e não pelo que o robô pode fazer.

Rituais e ferramentas

Gabriel: Muito legal, e assim, como que você mantém a sua equipe engajada e motivada? Quais rituais e ferramentas vocês usam?

Sheila: Olha, para manter não foi fácil. Eu cometi muitos erros no começo, muitos, pensa numa pessoa que errou muito na gestão de pessoas, essa é a Sheila. 

Quando meu último funcionário desistiu eu pedi um feedback sincero, pois realmente queria saber como funciona essa questão de ser chefe, porque a minha história é muito humilde, sou uma menina do interior que veio estudar em São Paulo, nunca pensei em ser dona de escritório. 

Dessa forma, eu tive muitas dificuldades com a gestão de pessoas por conta disso eu estudei muito para aprender, pesquisei muito na internet e eu não queria título, somente algo que me ajudasse, por isso fiz um curso de gestão de pessoas na Escola Conquer, que está super na moda agora, e me ajudaram muito.

Então hoje em dia, o que eu tenho? Tenho reunião de One by One com todos os funcionários durante uma hora semanalmente, reunião de equipe uma vez por semana e durante um dia só um checkout para ver como anda o trabalho. Se possível, uma vez por mês, a gente faz um almoço, uma confraternização ou algo do tipo, isso já é suficiente.

Agora nada como um exemplo, né? Uma coisa que eu acho muito interessante é o mural de cagadas, porque com a listinha de todos os erros a gente vê o processo e entende como não repetir e qual mecanismo utilizar da próxima vez. 

Então hoje a gente tem um procedimento que é criado por causa desse erro que aconteceu e a gente respeita o procedimento em função do histórico, é algo que funciona bastante.

Por último, importa pontuar a vulnerabilidade do líder, eu sempre faço questão de assumir meus erros, pedir desculpas e falar assim: “Olha, a primeira que erra aqui sou eu.”. 

Então, se alguém comete um erro, perde um documento, chega atrasado, eu gosto de dar certa liberdade para que as pessoas falem, justamente para evitar o clima pesado da maioria dos escritórios de advocacia, porque acho que ninguém consegue ficar muito tempo se esse clima perpetuar, eu acredito que hoje esses são os mecanismos.

Gabriel: Eu acho que de um lado é difícil permitir erros na advocacia, lidamos com prazos, os riscos são muito grandes, é a vida das pessoas. 

Mas por outro lado, se não permitirmos o erro, não criamos um ambiente seguro para isso, não temos inovação, vamos ter uma cultura do medo, fica difícil. Tem outra coisa que já falamos repetidamente, que é a pessoalização dos erros, a culpa é daquele advogado, mas talvez o erro nem seja dele, mas sim advindo de problemas estruturais do próprio escritório. São erros que acontecem devido a falta de procedimento, alinhamento de tarefas, cultura. 

Depois que a gente analisa o escritório por essa ótica, fica mais fácil manter a equipe engajada, motivada e tornar o ambiente mais saudável e divertido. 

Talvez a advocacia não precise se dar da forma que era antigamente, é difícil sim, é muita responsabilidade, mas a gente não precisa sofrer tanto, de pessoas doentes, como tem em vários escritórios de advocacia. É nisso que a Freelaw acredita.

Sheila: Eu acho que assim, nós, principalmente lá no escritório, trabalhamos muito com outras empresas, então não miramos só na nossa, tem várias outras para mirar. 

O que aprendemos é que o erro é extremamente importante para a organização. 

Por exemplo, quando você pega um erro percebe que ele conta muito sobre a empresa, sobre o que está acontecendo, se você observá-lo bem, ele vai te dar um procedimento interno do que precisa ser estudado.

Então, quando você estuda esse procedimento que gerou o erro, você vê muita coisa, o erro é só o efeito de uma coisa que precisa ser analisada. A minha visão como líder é que quando eu acho um erro, eu acho também uma possibilidade que é extremamente importante, se eu acho um erro reiterado eu tô achando uma cultura que precisa ser modificada.

Dificilmente uma pessoa consegue mudar uma cultura que já está implantada, por fui eu quem implantei, digo isso por ser a fundadora do escritório. Se tem uma pessoa que tem mais força do que eu, significa que eu preciso me revisar e assim, as críticas, se eu estou me incomodando muito com as críticas é porque meu ego está muito ferido. 

Se meu ego está atrapalhando a organização eu preciso me virar e cuidar disso, porque ele jamais pode atrapalhar meu projeto, já que o objetivo final do escritório não é o que agrada a Sheila, mas sim prestar serviços.

Logo, isso está muito claro na empresa, porque se não… Temos muitos exemplos, falando de política e do contexto mundial que a gente vive, percebemos líderes que estão pensando muito mais nos seus interesses particulares do que nos liderados e quando isso acontece temos uma doença na organização, a capacitação do líder é muito importante para a empresa funcionar.

Gabriel: Eu acho que o que você falou é super sério, muitos de nós não vemos a proximidade entre fragilidade e teoria do direito, não podemos ser frágeis, temos que ser sérios, é uma coisa muito comum na nossa classe. 

No entanto, às vezes a é importante que se mostre um pouco de fragilidade para a equipe, seja realmente sincero e capaz de criar um ambiente mais seguro para o erro, para fomentar a inovação, acho que isso é essencial para qualquer empresa que utiliza a inovação.

Dicas para melhorar a performance do seu escritório de advocacia

Gabriel: Sheila, falando sobre tecnologias, que dicas práticas você pode dar para os escritórios? 

Como identificar o que é melhor para a realidade deles? É uma coisa difícil, quando você abre o radar tem 200 ou 300 empresas e cada vez que você olha aumenta, então como saber qual tecnologia buscar e quais não buscar?

Sheila: Bom, dicas práticas, primeiro AB2L não vale a pena, você perde muito tempo para ver todas as startups e lawtechs que têm lá. 

Acho mais prático se associar à AB2L, pode ser como autônomo mesmo e entrar nos grupos de WhatsApp que te interessam e aí, caso você precise de alguma coisa, pergunta lá que eles vão de redirecionar de uma maneira muito melhor. 

Tudo que você precisa de uma forma mais eficaz do que ver uma a uma para decidir o que você precisa, então, não é porque eu estou fazendo esse podcast, mas a Freelaw é extremamente interessante, pois não importa o tamanho do trabalho que você tem, você vai encontrar um profissional que vai entregar em 5 dias o trabalho. 

É extremamente interessante, às vezes você tem dor de barriga, um funcionário se demite, outro pega covid-19 – inclusive eu tive duas que pegaram -, enfim, outra coisa importante, não acredite que um software vai resolver os problemas da sua vida, eu por exemplo tenho quatro só na área jurídica e na financeira tenho mais dois e eu estou sempre trocando.

A terceira dica é, não para de ir em eventos, sempre converse com seus clientes. Tenho muitos que são de startups, que me indicam eventos e apesar da minha agenda ser lotada e dar preguiça de ir, eu tento ir pois é uma oportunidade de conhecer gente legal. 

No meu background tem todo tipo de descendência, judeu, japonês, espanhol, mas especificamente os judeus, eles ressaltam que você tem que dar pelo menos cinco minutos de ouvido para todas as pessoas que vêm falar com você, então dê cinco minutos para as pessoas, nem todas elas vão agregar muito na sua vida, mas se você nunca estiver lá para ouvir as pessoas por estar sempre ocupado, acabará perdendo muitas oportunidades. 

Então assim, principalmente nesse mundo de startup muita gente vai querer parar para falar alguma coisa com você, mas dê cinco minutos de ouvido, não custa nada. 

A última dica é: busque sempre responder as pesquisas de satisfação, seja muito grata com o pessoal de startups, porque o egoísmo é uma coisa que passou de uma ordem, precisamos ser gratos e contribuir com quem já nos ajudou, mesmo não recebendo nada em troca, porque se a gente não fizer isso, não vai participar da próxima era. No meu ponto de vista você não vai sobreviver a nova era da economia sendo egoísta.

Gabriel: Gostei dessa parte do feedback, é uma das coisas que eu mais gosto da Freelaw e acho que isso vale para todas as empresas. Às vezes o problema que o seu escritório tem não é 100% resolvido por uma empresa, mas se você conversar com a empresa de forma genuína quem sabe vocês não começam uma co-criação? 

Acho que existe muita co-criação entre clientes e startups, isso acontece aqui com a gente na Freelaw, por exemplo, acho que entender o que existe, conversar com as pessoas, dar sugestões é muito importante e abre espaço para co-criar muita coisa. 

Estamos falando de inovação e várias outras coisas que ainda não existem, então é bom tanto para quem está utilizando a tecnologia quanto para quem está desenvolvendo. 

Considerações Finais

Gabriel: E Sheila, para encerrar aqui, já que o tema foi do tradicional para um escritório de advocacia inovador, quais são as suas dicas centrais tanto para quem está no escritório tradicional e não sabe o que vai fazer da vida, quanto para quem está em um escritório pequeno e quer transformá-lo? 

Quais dicas práticas para esses colegas que estão nos escutando?

Sheila: Bom, a primeira eu já falei mas irei repetir por ser a mais importante que é: não é porque você tem um escritório pequeno que você não pode ganhar dinheiro. 

Às vezes um escritório pequeno ganha mais de um escritório grande, então margem de lucro não indica faturamento, às vezes eu posso faturar 1 milhão e ter um lucro de 50 mil, bem como posso faturar 200 mil e ter um lucro de 190 mil reais. Então, vamos quebrar esse mindset de que escritório pequeno não escala.

Segunda dica, não existe possibilidade de você escalar se você não digitalizar, põe isso na sua cabeça, se você tem alguma dificuldade de digitalizar procure um escritório, um profissional que quebre esse mindset da tua cabeça, porque digitalizar não é comprar um aparelho e aprender a mexer, mas sim algo muito mais profundo, a compreensão de que você vai sempre aprender. 

Digitalizar não é comprar um aparelho e um software para o seu escritório, significa que você vai escutar para sempre que você vai ter que entender que você não sabe de nada para sempre e que você está aprendendo para sempre, é algo muito mais profundo que uma compra, mudar o seu escritório ou entender o que é Código Ponte, o que é um app. 

É um processo de humildade, aprendizado e solidariedade contigo. É uma dica prática que eu não sei se é tão prática, mas é a mais sincera que eu posso dar.

Dessa forma, tente manter o foco, tem muita startup, lawtech e empresas legais no mercado, então se cadastra no AB2L, pega os grupos de WhatsApp e converse com pessoas, peça ajuda e guia de pessoas, pois sozinho você vai se perder. Acho que é isso.

Gabriel: Muito obrigado, Sheila, gostei bastante da nossa conversa.

Sheila: Eu também, já sou fã da Freelaw né.

Gabriel: Também sou fã do seu trabalho e é difícil demais né, como você disse, é mulher, sócia de escritório, com um ambiente que concorre com escritórios grandes, mas mesmo com escritório pequeno consegue bater de frente com os grandes e a gente acredita muito nisso aqui na Freelaw.

O modelo de escritório grande é insustentável e, por isso, os de pequeno e médio porte começando a usar uma tecnologia bem feita podem entregar serviços muito melhor do que os grandes, mais em conta.

Acreditamos bastante nisso e acho que você é um bom exemplo disso, para todos os nossos colegas que estão ouvindo. Obrigada por ter topado esse desafio.

Sheila: Imagina, obrigada eu! E só para não deixar nada nebuloso, não estamos falando em diminuir honorários, mas uma diminuição de estrutura. 

Não é querendo tirar a nossa dificuldade, eu também gosto de ter vida boa, mas quando você diminui o custo de estrutura é bem melhor, por exemplo ao colocar pessoas para fazer coisas de robôs, você aumenta muito o custo de estrutura, pois robôs são mais baratos.

Gabriel: Com certeza, concordo. Colegas advogados e advogadas, agradecemos novamente pela audiência, é o episódio #50 e daqui a pouco chegamos ao #100, obrigada pelo carinho e já estou ansioso para os próximos. 

Na próxima semana vamos convidar o Bruno, vamos falar sobre algo bem interessante que é a ciência para o controle de prazos, um tema bastante importante para gestão, a falta de controle de prazos é uma coisa que gera dor de cabeça para muitos advogados. Então acredito que vocês vão gostar.

Se vocês estão aqui até agora, não esqueçam de se inscreverem no podcast da Freelaw e de compartilhar esse conteúdo com outros colegas. 

Se você quiser acessar esse conteúdo escrito é só entrar no blog da Freelaw que você vai encontrar a transcrição desse episódio em forma de artigo lá também, a gente se vê na próxima quarta-feira.

Sheila: Tchau!Gabriel: Até logo!

Sheila Shimada

  • É advogada especialista em direito societário e M&A. Professora de direito empresarial GetUSP (getusp), ESE – Sebrae (escola superior de empreendedorismo do Sebrae), Sócia na Shimada Advocacia.  
  • Formada pelo Mackenzie, Pós Graduada em Direito Processual Civil na PUC-SP, Extensão na FGV Law em Tributação nas estruturas e nos negócios societários, Prática em M&A pela INSPER, LLM em Direito Empresarial pela IBMEC, Business Executive Course em Loyola University of Chicago. Inglês fluente e Mandarim Básico. 

Gabriel Magalhães

É um dos fundadores da Freelaw e o Host do Lawyer to Lawyer. É bacharel em Direito pela Faculdade Milton Campos.  

Possui formação em Coaching Executivo Organizacional, pelo Instituto Opus e Leading Group.    

Formação em Mediação de Conflitos, pelo IMAB, e em Mediação Organizacional, pela Trigon e pelo Instituto Ecossocial. Certificações em Inbound Marketing, Inside Sales e Product Management pelo Hubspot, RD University, Universidade Rock Content, Gama Academy e Tera, respectivamente.      


FONTE: https://blog.freelaw.work/escritorio-de-advocacia-inovador/

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