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Aos 19 anos, os cariocas Douglas Vidal e Pedro Cardoso não poderiam imaginar que um problema de família se tornaria o pontapé para um negócio promissor. Estudantes de psicologia pela PUC-Rio e ciências da computação pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), respectivamente, os amigos se aproximaram ao descobrir que ambos tinham pessoas próximas com casos graves de depressão, agravados pela falta de assistência psicológica para a população de baixa renda.
A situação deixou os jovens em estado de alerta quando se deram conta de que um número cada vez maior de pessoas estava apresentando sintomas relacionados à doença. Em 2019, o Brasil já era considerado o país mais ansioso do mundo pela OMS (Organização Mundial da Saúde), com pelo menos 9,3% da população afetada pelo transtorno. No mesmo ano, dados da agência de saúde mostravam que 5,8% dos brasileiros sofriam de depressão, o que representa a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos.
No último ano, a situação ficou ainda mais delicada. As mudanças bruscas de rotina, incertezas em relação ao futuro e a falta de convívio social causaram impactos significativos na saúde mental dos brasileiros. Entre março e abril de 2020, o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%, enquanto os níveis de ansiedade aumentaram de 8,7% para 14,9%, segundo um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da UERJ.
Nesse contexto, Vidal e Cardoso – agora com 22 anos – decidiram unir suas expertises para criar a Aya, uma plataforma de acolhimento psicológico que tem o objetivo de tornar a psicologia acessível para a população de baixa renda. “Queremos transformar o cuidado da saúde mental, oferecendo suporte para todos os brasileiros, independentemente de suas faixas etárias ou econômicas”, afirma Vidal.
Lançada oficialmente em 2020, com a colaboração do sócio Matheus Costa (formado em gestão de T.I pelo Instituto Infnet), a ferramenta oferece um plano de assinatura mensal de R$ 250, que dá acesso a uma consulta de 55 minutos por semana. Após o cadastro, os especialistas analisam as dores e necessidades do paciente, para direcioná-lo ao psicólogo mais assertivo. As consultas são feitas virtualmente, com profissionais rigorosamente selecionados e constantemente acompanhados para que os pacientes desfrutem da melhor experiência possível.
“O mercado das healthtechs, em grande parte, deixou de falar sobre saúde para falar sobre bem-estar. No entanto, há uma grande diferença entre cada segmento. Com a Aya, estamos focados nas questões mentais e psicológicas”, explica o executivo. Mais do que a consulta com o psicólogo, a startup também promove programas de saúde mental para corporações parceiras.
As iniciativas começam pelo diagnóstico de como está a saúde mental dos colaboradores, com foco naqueles que apresentem baixa produtividade, queda no engajamento, aumento do desânimo, dificuldades para dormir, aumento nas faltas e atrasos e dores de cabeça constantes, identificando os pontos mais urgentes a serem tratados. Com os resultados em mãos, os especialistas da Aya desenvolvem soluções específicas para solucionar os problemas que mais impactam a rotina produtiva das equipes. A startup tem um banco de psicólogos exclusivos para empresas, a fim de atuar diretamente nas questões apontadas, e constrói relatórios periódicos para que a companhia avalie os resultados do atendimento. O valor total do programa para as pequenas e médias empresas varia conforme o número de colaboradores.
Os psicólogos que fazem parte da healthtech são cadastrados no Conselho Federal de Psicologia e têm autorização do Sistema de Conselhos de Psicologia para atender online. “Também analisamos os currículos e trabalhamos com base na necessidade do público. Se muitas pessoas estão com problemas de ansiedade, por exemplo, vamos buscar profissionais experientes no assunto”, diz Vidal. Outro critério de seleção dos profissionais é a diversidade: a startup busca psicólogos negros, focados no público LGBTQIA+ e grupos marginalizados, como mulheres vítimas de violência doméstica.
Para otimizar a comunicação com os pacientes, a startup utiliza o WhatsApp Business, por onde são enviados os links das videochamadas, notificações sobre as consultas e por onde os pacientes podem solucionar suas eventuais dúvidas. “A vantagem de centrarmos nossa comunicação no sistema de mensageria é a maior acessibilidade e proximidade com o público”, diz o executivo.
Pouco mais de um ano desde sua fundação, a startup conta com mais de 80 psicólogos de múltiplas abordagens terapêuticas e diferentes especializações. Juntos, os profissionais realizaram mais de 2.000 consultas em 2020. As projeções para este ano são positivas: o faturamento de 2021, em menos de oito meses, já superou o total do ano passado.
Sem muitos detalhes, Vidal adiantou à Forbes que a startup está elaborando novas estratégias – que devem ser lançadas no final do ano – para incentivar a população a cuidar da saúde mental. “O mais importante agora é trabalhar para reduzir as taxas de acionamento do Centro de Valorização da Vida [associação sem fins lucrativos que presta serviço voluntário de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato], que recebe algo em torno de 300 mil contatos por mês. Esse é o primeiro passo para, futuramente, diminuir os números de suicídio no país”, conclui o empreendedor.
Texto original de Gabriela Del Carmen, publicado pela Forbes
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