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A história é dividida em períodos, e cada um desses intervalos tem suas peculiaridades. A Internet funciona de forma semelhante. No início, a rede mundial de computadores era estática. Depois, virou um grande palco virtual – controlado por grandes companhias – para interação entre os usuários. Agora, passa por uma nova reformulação – e quer ser livre.
Esse novo capítulo da história digital, que vem sendo desenhado pelos profissionais da tecnologia, ganhou o nome de Web 3.0, Web3 ou “web semântica”. Neste guia, o InfoMoney explica o que essa revolução digital significa e qual a relação dela com os criptoativos.O que é Web 3.0
A Web 3.0 se refere a uma nova era da Internet: mais descentralizada, menos dependente de big techs e capaz de dar aos usuários o controle sobre seus próprios dados. Na prática, é uma web com código aberto; sem tantos ou nenhum intermediário mediando as conversas dos usuários; com dinheiro eletrônico não controlado pelo Estado; e serviços financeiros antes só ofertados por bancos.
Mas assim como o metaverso, utopia futurista que busca unir o real e o virtual, a Web 3.0 ainda está construção.
As primeiras discussões ocorreram em 2006, e a web3 começou a aparecer em blogs e eventos de tecnologia. Em novembro daquele ano, o jornalista americano John Markoff mencionou a nova fase da internet na matéria “Uma Web guiada pelo bom senso?”, publicada no jornal norte-americano The New York Times. Ele disse o seguinte:
“Cientistas da computação e uma coleção crescente de empresas iniciantes estão encontrando novas maneiras de explorar a inteligência humana… Seu objetivo é adicionar uma camada de significado em cima da web existente que a tornaria menos um catálogo e mais um guia… Referido como Web 3.0, o esforço está em sua infância, e a própria ideia deu origem a céticos que a chamaram de uma visão inalcançável”.
Talvez naquela época ainda fosse quase inconcebível criar uma Internet diferente, como os céticos disseram para Markoff. No entanto, com o surgimento e a evolução de novas tecnologias, o cenário mudou. Em 2014, o cientista da computação Gavin Wood, cofundador do Ethereum (ETH) e um dos criadores da Polkadot (DOT), deu sua contribuição para o desenho do novo capítulo da rede mundial de computadores.
“A Web 3.0″, disse ele, “é uma reimaginação dos tipos de coisas para as quais já usamos na web, mas com um modelo fundamentalmente diferente para as interações entre as partes. Informações que assumimos como públicas, nós publicamos. Informações que supomos serem acordadas, colocamos em um livro-razão distribuído (sistema descentralizado de compartilhamento de dados). Informações que assumimos serem privadas, mantemos em segredo e nunca revelamos.”
O que muda em relação à Web 2.0?
Para sabermos exatamente o que muda na Web 3.0, é preciso olhar para as outras eras da Internet.
Web 1.0
A Web 1.0 começou no final da década de 80 e foi até 2000. Um dos principais marcos da época foi a criação do World Wide Web (WWW), sistema de documentos que dá aos usuários acesso a conteúdo multimídia. O criador foi o físico e cientista da computação Tim Berners-Lee.
Nessa fase, as páginas eram estáticas, e tinham muito texto e poucas imagens. A maioria dos sites pertenciam a veículos de imprensa, e a internet parecia mais com a TV e o Rádio. De fato, os usuários eram consumidores passivos e só conseguiam ler informações, sem interagir.
Grandes empresas de tecnologias foram criadas nessa época para “organizar” o conteúdo publicado, como Google e Yahoo.
Web 2.0
A partir dos anos 2000, a rigidez da Web 1.0 começou a dar espaço para uma Internet mais interativa – a Web 2.0. Empresas de tecnologia lançaram as primeiras plataformas para conversa e publicação de conteúdo. Aplicativos de bate-papo, como MSN e mIRC, blogs e redes sociais se popularizaram. Orkut, Facebook, Twitter e YouTube nasceram nessa época.
A Web 2.0, que dura até hoje, levou bilhões de usuários para dentro da Internet. Por outro lado, também marcou a monopolização da rede mundial de computadores. Os principais serviços, como buscadores e plataformas de mídias sociais, ficaram nas mãos dos grandes conglomerados de tecnologia. Os dados dos próprios usuários viraram moeda, às vezes sem eles saberem. Em outras palavras, a web ficou centralizada, à mercê da caneta dos CEOs.
Web 3.0
A Web 3.0 chegou com a pretensão de descentralizar a internet. A ideia é unir o que tem de melhor na Web 1.0 e 2.0, e tirar o controle da rede – e dos dados dos usuários – das mãos das big techs. Essa nova era digital está sendo construída aos poucos com ajuda de tecnologias inovadoras, principalmente a blockchain e as criptomoedas, que dispensam os validadores tradicionais de confiança (empresas, governos etc).
A Web 3.0 tem tudo a ver com os criptoativos por causa da blockchain, tecnologia subjacente que dá suporte para as moedas digitais. É essa tecnologia, cujo primeiro caso de uso foi o Bitcoin (BTC) no final de 2008, que está dando o caráter descentralizado da Internet do futuro.
A blockchain é um grande banco de dados compartilhado que registra as transações dos usuários. Para visualizá-la, pense nela como um sistema operacional rodando em diversos computadores espalhados pelo mundo. Todos os participantes (chamados de “nós”) podem ver e inserir dados, desde que sigam algumas regras pré-estabelecidas.
A diferença com um programa tradicional é que a blockchain, em seu formato público, não é controlada por uma entidade. Além disso, seu sistema é imutável – ou seja, a partir do momento que uma informação é registrada, não dá para alterá-la. Isso é possível por causa da forma como seu código foi criado, e de seus algoritmos.
Aplicativos descentralizadas (dApps), finanças descentralizadas (DeFi), tokens não-fungíveis (NFTs), metaverso e criptomoedas rodam nesse novo sistema.
“A Web 3.0 se trata da descentralização da internet como conhecemos, movendo de um contexto monopolizado por grandes instituições para outro no qual a rede é construída, operada e possuída pelos seus usuários. Para tornar essa descentralização possível, é necessário abraçar uma nova infraestrutura tecnológica, que nesse caso é a blockchain”, disse Bruno Diniz, diretor da Financial Data & Technology Association (FData) e sócio da Spiralem Innovation Consulting.
Alguns criptoativos estão tentando acelerar a construção da web do futuro. Por isso, ganharam o apelido de tokens da “Web 3.0”. Conheça alguns dos principais.
A Polkadot saiu do forno em 2016 com a pretensão de ser a base da Web3. Além disso, também assumiu o difícil papel de ser uma ponte entre as blockchains, resolvendo um dos grandes problemas do mercado: a interoperabilidade das plataformas. O projeto foi criado por Gavin Wood, aquele que lá em 2014 ajudou a definir como deve ser a Web 3.0, e ajudou a construir o Ethereum.
Quando você navega por buscadores padrões, como o Google, geralmente é bombardeado por anúncios. Em 2015, para lidar com esse problema, Brian Bondy (cofundador do navegador Mozilla Firefox) e Brendan Eich (criador da linguagem de programação Javascript) lançaram o Basic Attention Token. O BAT roda no Ethereum e está associado ao navegador Brave, que, por padrão, remove a publicidade. Os usuários do Brave, no entanto, têm a opção de participar de um programa para ver anúncios privados; em troca, eles ganham tokens BAT, que podem ser guardados ou trocados por moeda fiduciária.
A Livepeer é uma plataforma de streaming de vídeo totalmente descentralizada e de código aberto. Foi criada em 2017, na rede Ethereum, para ser uma alternativa às ferramentas oferecidas por big techs, como Google e Amazon. Seus fundadores são Doug Petkanics (cientista da computação), Eric Tang (engenheiro elétrico) e Yondon Fu (cientista da computação).
O BitTorrent é um famoso sistema de compartilhamento de arquivos. Foi projetado em 2001 para facilitar a transferência peer-to-peer (ponto a ponto) e ainda hoje movimenta grande parte do tráfego da internet. Em meados de 2018, a blockchain Tron (TRX), fundada pelo empresário Justin Sun, comprou a plataforma e, alguns meses depois, lançou a criptomoeda BTT. O ativo digital é usado tanto para alimentar o BitTorrent como as outras ferramentas descentralizadas do projeto.
A Internet das Coisas (IoT, em inglês) quer conectar os objetos à rede mundial de computadores. No entanto, muitas das soluções atuais, como o Wi-Fi e o Bluetooth, não têm força suficiente para lidar com essa revolução digital. A blockchain Helium foi criada em 2013 por Shawn Fanning (inventor do Napster), Amir Haleem e Sean Carey com a missão de facilitar a comunicação entre os dispositivos e a internet.
Aprendizagem, melhoria da experiência do usuário e mudanças culturais. Esses são, segundo Tatiana Revoredo, CSO na The Global Strategy e membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation, alguns dos principais desafios da Web 3.0.
“Como a Web 3.0 ainda está em seu estágio embrionário, é necessário muita aprendizagem e experimentação na jornada do usuário médio. A falta de design de fácil utilização na Web 3.0 dificulta a experiência do usuário e provoca lentidão em sua curva de aprendizado”, disse Tatiana.
“Tais fatores são uma barreira significativa para a entrada da maioria das pessoas. E, devido ao tempo necessário para a exploração e desenvolvimento dos códigos de software, bem como o atual foco dos desenvolvedores, percebemos o quanto a experiência do usuário definitivamente está longe de ser a prioridade atual na Web 3.0”, completou.
De acordo com Tatiana, a nova Internet também deve superar obstáculos relacionados à escalabilidade e à usabilidade, bem como a questões comportamentais, visto que os internautas serão totalmente responsáveis por seus dados e seus criptoativos na Web 3.0.
“Isso significa a necessária superação de barreiras culturais e uma mudança de comportamento por parte dos usuários. Eles precisarão aprender o que são carteiras digitais, como as chaves públicas e privadas funcionam e quais as práticas de segurança cibernética mais adequadas. Além disso, devem estar constantemente alerta para esquemas de phishing”, finalizou.
Diniz, da Spiralem Innovation Consulting, também apontou a experiência do usuário como um grande desafio para a Web 3.0. Segundo ele, os obstáculos vão desde o envio, recebimento e transferência de ativos, até a utilização da maioria dos aplicativos e a assinatura de transações.
“Por outro lado, entendo que isso é o que acontece com praticamente qualquer nova infraestrutura que está em processo de pleno crescimento. Tudo isso acaba se traduzindo em oportunidades de negócios”, disse.
Os próximos passo da Web 3.0, segundo Diniz, são o aprimoramento da experiência do usuário, a crescente adoção de novos usuários e a ampliação da relevância de diferentes plataformas ligadas à essa realidade.
“Olhando para o histórico da internet é fácil compreender que estamos em um estágio muito similar aquele que já vimos em outro momento – em que early adopters (indivíduos que usam novos produtos antes da maioria) mergulhavam em um universo de possibilidades e a grande parte das pessoas ainda observava de longe”, falou.
“Em um dado momento, os benefícios de algumas aplicações ficam muito claros (e as soluções tornam-se fáceis de usar) e uma mudança de comportamento em massa acontece”, completou.
Diniz disse ainda que nunca houve um momento de transformações tão rápidas quanto vivenciamos hoje. “Por isso acredito que a virada de chave virá mais rápido do que podemos imaginar. Há muita gente empenhada em colher os benefícios dessa nova corrida do ouro na era digital”, finalizou.
A Web 3.0 também é alvo de críticas. Alguns players do mercado dizem que ela é só um “hype”, enquanto outros apontam o dedo justamente para a bandeira da descentralização, que, apesar de ser uma das bases da “criptoesfera”, não é totalmente verdadeira.
O CEO da Tesla, Elon Musk, disse no final de 2021 que a nova Internet parece mais uma jogada de marketing. “Não estou sugerindo que a web3 seja real – parece mais uma buzzword de marketing do que realidade agora – fico me perguntando como será o futuro em 10, 20 ou 30 anos”. Ele falou também o seguinte: “Alguém viu a web3? Não consigo encontrar”.
Em resposta a Musk, Jack Dorsey, cofundador do Twitter, falou que a Web 3.0 “está em algum lugar entre a e z”, uma brincadeira para dizer que a nova Internet já está centralizada nas mãos de gestoras de venture capital como a Andreessen Horowitz (a16z), uma das que mais investem em startups de blockchain que trabalham na construção da Web3.
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