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Burocracia sem fim da cidadania europeia, um negócio milionário

Empresas lucram para agilizar pedidos em países como Itália e Portugal; startup do DF levantou R$ 100 milhões no último ano
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Startup Cidadania4u, de Rodrigo Gianesini (esquerda) e Rafael Gianesini, ajuda a obter cidadania — Foto: Divulgação / Cristiano Mariz
Startup Cidadania4u, de Rodrigo Gianesini (esquerda) e Rafael Gianesini, ajuda a obter cidadania — Foto: Divulgação / Cristiano Mariz

Publicação original: O Globo.

Encontrar registros de antepassados, percorrer trâmites burocráticos infindáveis e ter uma dose farta de paciência. Cada vez mais brasileiros estão dispostos a enfrentar essa jornada em busca da cidadania europeia, o que abriu espaço para um novo filão de mercado: o de empresas dispostas a ajudar nestes procedimentos. Uma startup de Brasília faturou R$ 100 milhões no ano passado e espera ultrapassar com folga esse valor neste ano.

Criada em 2019 pelos irmãos Rodrigo e Rafael Gianesini, a startup Cidadania4U oferece o serviço de reconhecimento da dupla cidadania, sem a necessidade de o cliente sair de casa. Até o momento, o time de 450 especialistas trabalha com pedidos para reconhecimento em três países: Itália, Portugal e Espanha. A Alemanha será a próxima.

Os clientes em busca de um passaporte europeu para chamar de seu são majoritariamente residentes de São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Paraná.

Cerca de 80% das solicitações de reconhecimento da condição de cidadão são para o território italiano. Isso porque é o primeiro país em que a empresa começou a trabalhar. Portugal atualmente representa 15% da demanda e Espanha, 5%, mas com perspectiva de crescimento. Ambos foram inseridos no negócio a partir de 2022 — a startup foi fundada em 2019.

Dados do portal de Estatística da União Europeia (Eurostat) mostram que 28,4 mil brasileiros tiveram o pedido de cidadania aceito para os países do bloco em 2021, última informação disponível. Do total, 65% foram para Portugal e Itália.

Sem poder driblar a burocracia de órgãos oficiais dos respectivos países, a Cidadania4u busca agilizar o processo prévio de verificação e compilação documental, apostando na precisão desse levantamento.

A revisão da tradução de documentos ou exame de dados pessoais é feita de forma automatizada.

— Não podemos errar na análise. Usamos tecnologia para fazer toda a parte documental com assertividade. Se você errar uma certidão virtual, o processo pode ser negado. Hoje, o nosso processo está 52% automatizado, sem passar por humano — afirma Rafael Gianesini, CEO da Cidadania4U.

Busca por cartório veloz

Por meio de análises preditivas é avaliado também qual cartório, nos países europeus, teria maior agilidade em atender ao pedido, com base no próprio histórico da empresa. Na Itália, prefeitos já reclamam de que pedidos de cidadania feitos por brasileiros descendentes de antigos emigrados têm sobrecarregado os tribunais e o setor de registros de cidades pequenas. A relação com as autoridades desses locais se dá por meio de uma equipe jurídica baseada da Europa, responsável pela formalização do pedido na via oficial dos respectivos países.

— Estamos protocolando (pedidos de) mil pessoas por mês. Temos o nosso próximo banco de fluxos. Só na parte de genealogia que consultamos bases (de dados) externas, como dados imigratórios — explica Rodrigo Calhau, diretor financeiro da empresa.

A partir do pedido dos clientes, a estimativa média é de dois anos de espera para a finalização do processo. No ano passado, foram 17 mil atendidos. Hoje, pela via consular, com o cidadão pedindo diretamente, o processo pode demorar dez anos, segundo o escritório de advocacia Boschetti, que trabalha com pedidos de reconhecimento da cidadania italiana.

Os requerimentos também podem ser feitos diretamente com advogados e demais assessorias jurídicas especializadas. Nesse caso, o tempo de espera depende muito, explica o advogado Wilson Bicalho, baseado em Portugal e especialista na área de imigração. No caso das autoridades portuguesas, ele estima um período de seis meses a três anos.

— Não existe hoje uma receita mágica para o tempo consular, que demora dentro do processo do próprio governo — diz Bicalho.

Para Daniel Marques, presidente da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), a aplicação da inteligência artificial (IA) em serviços tradicionais, como o reconhecimento de cidadania e certificações em cartórios, é um processo que traz “eficiência e precisão” aos trabalhos.

— A análise e o processamento de grandes volumes de dados e documentação pode ser feita com rapidez e acurácia, reduzindo a burocracia e o tempo de espera — avalia Marques.

A empresa não é a única a lucrar com a busca por lupa da ascendência de cidadãos brasileiros. A Hannover Cidadania Alemã, com sede em Curitiba, atende quem busca cidadania alemã ou austríaca.

— Por imposição dos governos destes países, ficamos impossibilitados de automatizar todas as etapas do processo, mas internamente usamos diversos sistemas para integrar nosso atendimento, comercial, financeiro e operacional — afirma Fabio Werlang, CEO da empresa.

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