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Em fevereiro, na “Conferência 2030” realizada na faculdade de direito da Universidade da Pensilvânia, se discutiu mudanças que a advocacia poderia enfrentar nos próximos 10 anos. Porém, tais mudanças chegaram precocemente — apenas alguns meses depois — por causa da pandemia de coronavírus. E chegaram para ficar.
A mudança em destaque é a do trabalho remoto — ou trabalho em casa. Os administradores dos escritórios de advocacia vislumbram um novo modus operandi, em que o trabalho remoto passará a ser uma prática comum, amplamente adotada — certamente, de forma permanente.
A primeira — e grande — vantagem de se organizar para que os advogados possam trabalhar de casa é a economia de custos. O pagamento de aluguel ou de manutenção de um prédio próprio é a segunda maior despesa de um escritório de advocacia, logo depois da folha de pagamentos.
Com pelo menos parte dos advogados e empregados trabalhando de casa, o escritório pode reduzir significativamente o espaço necessário para abrigar toda sua força de trabalho. E, com isso, reduzir custos.
Essa é uma perspectiva que anima os escritórios a tornar permanente uma situação causada pela pandemia de coronavírus. É óbvio que isso significará economia de custos para os advogados também.
Além disso, os escritórios poderão contratar mais advogados e mais auxiliares, porque não irão depender mais de disponibilidade de espaço físico para abrigá-los. Administradores de escritórios de advocacia dos EUA disseram ao Jornal da ABA (American Bar Association) que a possibilidade de trabalhar de casa será atraente para advogados que queiram contratar.
A Covid-19 forçou os escritórios de advocacia a experimentar o trabalho remoto e a rápida transição foi mais tranquila do que se esperava. Uma pesquisa da Loeb Leadership indicou que 98% dos dirigentes de bancas entrevistados aprovaram o “escritório em casa”, com 77% dizendo que o experimento foi “altamente bem-sucedido”.
Agora, “não é mais possível colocar o gênio de volta na lâmpada, se você vem operando bem, por dois ou três meses, com os advogados e empregados fora do escritório”, disse em recente entrevista o sócio da Baker McKenzie, Bem Allgrove.
Alguns escritórios são mais resistentes, mas estão experimentando de forma lenta e gradual, começando por um ou dois dias por semana de trabalho remoto. Outros, ao contrário, requerem que os advogados venham ao escritório um ou dois dias por semana.
Adesão a novas tecnologias
Os advogados dos EUA, como de outras partes do mundo, são famosos pela resistência à adoção de novas tecnologias. Mas a COVID-19 os está obrigando a experimentá-las. As mais comuns são as que viabilizam o trabalho remoto.
Ferramentas de videoconferência (ou de audioconferência) passaram a ser usadas para uma variedade de propósitos, como os de comunicação com os colegas, reuniões com clientes, webinars e prática da advocacia em geral.
Segundo o Jornal da ABA, alguns escritórios como a Littler Mendelson, banca que representa empresas globalmente, produziram vídeos de treinamento, para ajudar os advogados a atuar, através de vídeo, em depoimentos, preparação de testemunhas, julgamentos e mediações.
O advogado Scott Forman, da Littler Mendelson, disse ao jornal que as tecnologias de videoconferência não serão abandonadas após a Covid-19. “Os advogados resistentes à tecnologia de videoconferência, porque acreditam que seu trabalho deve ser feito pessoalmente, irão mudar de ideia. A resistência vai se dissipar e eles irão se acostumar com o novo normal”, ele disse.
Dave Kinsey, diretor da Total Networks, firma que que fornece tecnologia a escritórios de advocacia, disse ao jornal que o Microsoft Teams vem ganhando popularidade, graças à pandemia. O software possibilita conferência por vídeo ou áudio, troca de mensagens instantâneas, compartilhamento de arquivos e edição de documentos entre colegas, em tempo real. Ele prevê que os advogados irão se tornar “craques em tecnologia”.
A hora e a vez da nuvem
Apesar da desconfiança dos advogados que se preocupam com a segurança e a confidencialidade das comunicações, os escritórios irão adotar a nuvem, durante e após a pandemia. “É impossível imaginar o trabalho remoto em um escritório de advocacia que não esteja conectado à nuvem”, disse o sócio-administrador da Rimon Law ao Jornal da ABA. “O argumento de que a nuvem não é segura já está ultrapassado a esse ponto.”
A consultora de tecnologia Adriana Soares disse ao jornal que muitos servidores de escritórios de advocacia irão desaparecer, porque os softwares necessários para operar a banca estarão na nuvem. Por enquanto, em parte, porque muitas provedoras de tecnologia para escritórios de advocacia ainda não oferecem seus serviços na nuvem. Mas é uma questão de tempo para isso mudar.
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