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A Evolução da Gestão de Escritórios de Advocacia:Da Gestão Tradicional para Legal Ops, na Prática.

Publicado em
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Imagem: Pixabay

Ao longo de mais de duas décadas atuando na gestão de escritórios de advocacia, testemunhei uma transformação significativa na forma como os serviços jurídicos são administrados.

O que antes era centrado em controles administrativos básicos evoluiu para uma abordagem estratégica, orientada por dados e tecnologia. Com o tempo e de forma orgânica, a gestão legal caminhava para o que hoje conhecemos como Legal Operations (Legal Ops).

A Transição da Gestão Tradicional para o Legal Ops

Por muito tempo, desde que comecei a trabalhar com escritórios de advocacia, a gestão era quase sempre voltada ao operacional: cuidar dos prazos, organizar as rotinas administrativas, manter as finanças em dia e gerenciar agendas.
Esses aspectos eram — e continuam sendo — fundamentais, mas, com o passar dos anos, percebi que já não bastavam para lidar com a crescente complexidade do mercado jurídico.

Foi então que compreendi a necessidade de uma nova abordagem, mais estratégica, que fosse além do controle e da organização do dia a dia. Como administradora de empresas, percebi o quanto era essencial trazer práticas de gestão empresarial aplicáveis à realidade da advocacia.

Com o tempo e de forma orgânica, a gestão legal caminhava para o que hoje conhecemos como Legal Operations, ou Legal Ops — uma abordagem estruturada que aplica práticas de gestão empresarial ao universo jurídico, com o objetivo de tornar a operação mais eficiente, estratégica e orientada por dados. Trata-se de uma área multidisciplinar que atua como suporte à atividade jurídica, otimizando processos, integrando tecnologia, organizando fluxos e promovendo uma cultura de performance.

Na prática, isso significou implementar ferramentas para automatizar tarefas administrativas, adotar sistemas mais eficientes, reestruturar equipes de forma funcional e estabelecer indicadores que permitem mensurar o desempenho de maneira mais objetiva, ou seja, o pilar processos-pessoas-tecnologia.

Hoje, entendo que Legal Operations não é apenas uma área, mas um conceito com metodologia própria, que tem o papel de profissionalizar os escritórios de advocacia. Trata-se de uma mudança que não substitui a gestão tradicional — mas que a fortalece, dá novo fôlego e prepara o escritório para crescer com inteligência e consistência.

Dados que Evidenciam a Transformação

Tenho percebido, ao longo dos últimos anos, que a prática de Legal Operations tem ganhado força, especialmente nos departamentos jurídicos de grandes empresas e também em escritórios de grande porte que atendem essas organizações. A pesquisa da FGV Direito SP (“Panorama do Legal Operations no Brasil/2025″) confirma esse movimento:

os departamentos jurídicos foram os primeiros a estruturar áreas dedicadas ao Legal Ops no Brasil, impulsionados por demandas como transformação digital, automação, redução de custos e, principalmente, pela necessidade de alinhar o jurídico à estratégia do negócio.

Esse contexto fez com que a maturidade da metodologia se desenvolvesse mais rapidamente dentro das empresas.

Já nos escritórios de advocacia, o avanço foi um pouco mais gradual e como disse anteriormente, de forma orgânica, ganhando intensidade especialmente no período pós-pandemia.

Foi nesse momento que muitos perceberam que o modelo tradicional de gestão já não dava conta de entregar o que o mercado passou a exigir: serviços mais eficientes, integrados, tecnológicos e orientados a resultados.

Essa mudança mostra que profissionalizar a gestão deixou de ser apenas uma iniciativa interna — e passou a ser também uma resposta estratégica para atender ao novo perfil de cliente, que valoriza previsibilidade, eficiência e inovação.

Experiências Práticas na Implementação do Legal Ops

Ao longo da minha trajetória, tive a oportunidade de vivenciar, na prática, a implementação de iniciativas alinhadas à lógica do Legal Ops em diferentes contextos. Em um escritório especializado em contencioso trabalhista reclamante, durante a pandemia, enfrentamos um desafio considerável com a assinatura de contratos físicos e procurações. Com o volume elevado de contratos de reclamantes, a solução veio com a implementação do uso da assinatura digital, que automatizou a gestão dos documentos a serem assinados, o que resultou em uma operação mais ágil, com menos papel e uma mudança expressivo na dinâmica da tarefa.

Em outro momento, onde o desafio não era o volume, mas a falta de métricas claras para avaliar o desempenho das equipes jurídicas, introduzimos então indicadores de performance (KPIs), que nos permitiram medir tanto a produtividade individual quanto a eficiência de uma área/equipe. Com base nesses dados, foi possível identificar gargalos e pontos de atenção, readequar a distribuição de atividades e melhorar o controle dos prazos.

Também participei de projetos em que a tecnologia e a análise de dados foram determinantes para transformar a gestão jurídica. Em uma dessas experiências, utilizamos de dados financeiros integrados ao sistema jurídico para embasar decisões estratégicas — desde a alocação de recursos até o planejamento financeiro da banca — promovendo uma gestão muito mais precisa, orientada por dados e alinhada aos objetivos do escritório.

O Profissional de Gestão na Advocacia Moderna

Diante dessa nova perspectiva de gestão jurídica, fica evidente que não apenas advogados, mas também profissionais com outras formações — como a minha, em Administração de Empresas — podem e devem integrar os escritórios que já adotam ou desejam implementar a metodologia Legal Ops. Essa é, inclusive, uma das grandes transformações que tenho acompanhado no setor: a abertura crescente para modelos multidisciplinares, nos quais a expertise de diferentes áreas contribui diretamente para a eficiência e o crescimento do jurídico.

Quando o escritório passa a funcionar com base na lógica do Legal Ops, ele precisa de muito mais do que conhecimento jurídico. É necessário contar com habilidades em gestão de projetos, organização de processos, liderança de equipes, tecnologia aplicada, análise de dados e planejamento estratégico-financeiro. São competências que ampliam a capacidade do jurídico de entregar valor — e que nem sempre estão no repertório técnico de um advogado.

A advocacia do futuro é, acima de tudo, colaborativa. E isso exige reconhecer que advogados não devem — e não precisam — carregar sozinhos todas as responsabilidades do negócio. Esperar que um só profissional dê conta da estratégia, da operação, do atendimento, da gestão financeira e ainda da produção jurídica é o que tem levado muitos à sobrecarga. O resultado é o que costumo chamar de carreira “nem-nem”: nem técnico especialista, nem gestor estrategista, mas sim um perfil sobrecarregado que tenta fazer tudo e não consegue se aprofundar em nada.

É nesse cenário que o papel do profissional de gestão se fortalece. Ele atua como um facilitador da transformação, sendo o elo entre o jurídico, as áreas operacionais e as ferramentas de eficiência. O conceito de Legal Ops exige visão estratégica, capacidade de articulação e domínio sobre metodologias que transcendem o Direito. E é justamente aí que profissionais como eu — e tantos outros administradores, engenheiros, analistas e gestores — entram para fazer a diferença, oferecendo ao escritório estrutura, governança e a base necessária para escalar com inteligência.

Conclusão

A transição da gestão tradicional para o conceito de Legal Ops não é apenas uma tendência: é uma resposta necessária às novas exigências do mercado jurídico. Em um cenário cada vez mais complexo, competitivo e orientado por resultados, escritórios que integram práticas de gestão, tecnologia e dados saem na frente — com operações mais eficientes, entregas mais estratégicas e relacionamentos mais sólidos com seus clientes.

A minha trajetória confirma que essa transformação é viável, sim, mas sobretudo essencial. E ela não se faz apenas com boas ferramentas e soluções tecnológicas — mas com pessoas preparadas, processos bem definidos e uma mentalidade colaborativa, aberta ao novo e ao multidisciplinar.

O futuro da advocacia não está em fazer mais do mesmo. Está em profissionalizar, integrar, inovar. Está em reconhecer que gestão é estratégia, que operação é valor, e que o jurídico pode — e deve — ser cada vez mais protagonista da evolução da sua própria prática, com mais eficiência e foco na construção de negócios sustentáveis.

Juliana Perin é CEO
GNA | Gestão Na Advocacia, formada em Administração de Empresas, com especialização em Gestão na Advocacia. Possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA em Gestão Estratégica na Advocacia pela Escola Paulista de Direito.

Com 26 anos de experiência, sendo 20 em cargos de liderança, atuou como Consultora Especialista no Comitê de Gestão em Escritórios da OAB/Jabaquara e como Professora Especialista no curso de Pós-Graduação em Administração Legal da UMESP.

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