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Novamente, a Internet está se transformando. A World Wide Web caminhou de um ambiente estático, acessado de computadores pessoais, com sites de textos simples (Web 1.0) para um de acesso instantâneo por meio de smartphones, streaming de vídeo e plataformas completas de interação social (Web 2.0).
À medida que o ambiente digital evoluiu, a dependência das Big Techs cresceu. A construção do pesquisador mais rápido e conveniente da Web rendeu ao Google o controle de 74% de todo o tráfego de pesquisa. A maior plataforma de interações sociais e compartilhamento, o Facebook, foi recompensada com o controle da identidade de 2,3 bilhões de pessoas.
Atualmente, existe uma Web que não apenas impulsiona a cultura da sociedade moderna, mas, inclusive, o pensamento político, além de concentrar ativos nas mãos de poucos. Por outro lado, uma mudança desses paradigmas vem sendo construída pela nova Web 3.0 e o seu propósito de descentralização pode gerar um grande impacto social e democrático.
É sabido que a Internet centralizada trouxe benefícios, como o acesso gratuito a tecnologias anteriormente inacessíveis, a possibilidade de usar o ambiente digital para vender produtos, entre outros usos.
Por outro lado, viu-se nos últimos anos como criadores e usuários foram impactados com mudanças drásticas de algoritmos e entrega de conteúdo, ficando clara a submissão de dados e ações de acordo com as diretrizes da plataforma.
A mesma centralização também possibilitou o aumento de tensões sociais através de notícias falsas, robôs de uso de campanhas políticas e vieses de algoritmos criados pelas próprias empresas de acordo com seus interesses econômicos (quem não lembra do escândalo Cambridge Analytica?).
E buscando a solução dessas questões, muitos acreditam que a Web 3.0 seja a resposta para todos esses dilemas. Nessa reconstrução do novo ambiente on-line, há a preocupação em combinar os melhores recursos das duas primeiras fases da Web para um futuro de redes descentralizadas governadas pela comunidade.
Dessa forma, as plataformas e os aplicativos não serão de propriedade de uma empresa central, mas sim de usuários. O que vem sendo possível por sua estrutura Blockchain, a tecnologia que tem sustentado as criptomoedas, por exemplo. Através dela, a segurança, a privacidade e a arquitetura descentralizada promoveriam os direitos dos indivíduos em vez dos proprietários corporativos, dando às pessoas mais opções sobre como elas interagem no on-line.
Mudanças sociais
Por estes aspectos apresentados, já se imagina o quanto a descentralização promovida pela Web 3.0 pode trazer mudanças sociais e democráticas. Afinal já é estruturalmente mais democrática e livre do que a que se vive atualmente, dando poder e propriedade direta de dados aos seus usuários.
A nova fase da Internet quer acabar com o estigma de que é normal o compartilhamento de dados para ter o direito ao uso da plataforma ou até mesmo de que é normal as grandes empresas de tecnologia ditarem a maneira de sua utilização por parte das pessoas.
Logo, o potencial disruptivo da tecnologia Blockchain, assim como a descentralização da Web 3.0, podem estar possibilitando a formação de um novo tipo de sociedade digital, visto que as organizações digitais descentralizadas podem ter um impacto significativo não apenas na governança das empresas, mas na distribuição econômica dos frutos gerados pela produção de conteúdo e dados, atualmente na mão das Big Techs.
Um exemplo importante dessa transformação são as DAOs, Organizações Autônomas Descentralizadas, de propriedade de membros e sem uma liderança centralizada. No momento em que os membros de uma DAO estão debatendo uma decisão, cada membro pode enviar propostas e votar nelas usando tokens de governança (NFTs).
Uma vez que a maioria simples chega a uma decisão, ela é automaticamente executada, tudo via ações de código popularmente conhecidos como contratos inteligentes. Neste sentido, alguns especialistas têm falado que as DAOs. além de serem as comunidades do futuro, também estão construindo uma espécie de “democracia líquida” – um tipo ideal de democracia representativa e direta que pode ser aplicada em escala, podendo ser aplicada inclusive na vida off-line, reorganizando sociedades.
Por mais que se tenham inúmeros exemplos positivos de aplicação desse poder descentralizado, alguns especialistas são céticos em relação ao assunto, sob alguns argumentos, dentre eles que a mesma visão de descentralização já era discutida com a Internet anos 90.
Também analisam o quão de fato a área digital é construída de forma descentralizada. Afinal a propriedade e a influência da Web 3.0 já estão na mão de poucos atores. Outro ponto seria a incerteza de quanto os serviços descentralizados podem um dia alcançar a paridade com os esforços das Big Techs.
Exemplos de aplicações
Quebrando esses paradigmas contrários ao avanço da Web 3.0, já se veem bons exemplos de DAOs como a empresa Pleasr, que através de um consenso da comunidade faz investimentos em obras de artes digitais. Ou ainda a UcraikeDao, uma organização descentralizada fundada para coleta e distribuição de doações para ajudar os afetados pela guerra da Ucrânia, com todas as ações e decisões construídas em comunidade. Todas as doações são feitas de forma transparente e segura, tendo beneficiado diversas pessoas.
Por sinal, a DAO American CryptoFed foi a primeira a ser reconhecida como uma entidade legal pelo governo americano, visando permitir negociações sem taxas usando seu próprio token, conhecido como Ducat, mostrando um avanço das comunidades, inclusive, no setor governamental.
O momento eleitoral trouxe à tona o peso da interação social no ambiente digital e da demanda por soluções técnicas para problemas sociopolíticos profundos. Afinal, política, controle e poder não desapareceram com a criação da Web, pelo contrário, assumem facetas diferentes.
Neste momento de evolução e descentralização da Internet, caminha-se para a formação de novas premissas no digital calcadas na preocupação de quem terá o poder e o controle nas mãos. E aqui não se fala apenas na resistência a uma censura do governo ou de visões políticas libertárias. As comunidades oportunizadas pela Web 3.0 e suas ferramentas podem ser uma forma de libertar criadores e colocar o poder dos dados nas mãos dos usuários.
É claro que não há como afirmar que esse novo ambiente digital descentralizado resolverá todos os problemas atuais, assim como não se conhecem os desafios que virão em virtude dessa mudança. No entanto, com certeza, a Web 3.0 é a oportunidade esperada para otimizar a liberdade individual, social e econômica.
Caroline Francescato é Associada à AB2L, CEO e fundadora do LinkLei, plataforma para advocacia autônoma, atualmente com mais de 20 mil usuários.
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