A AB2L iniciou suas atividades em 2017 e, desde então, escreve os capítulos de uma história que tem muito para contar sobre o ecossistema de tecnologia jurídica.
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Programas para educar o mercado, fomentar o ecossistema e participar ativamente do processo de regulamentação brasileiro entre direito e tecnologia.
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QUAL É O SEU MAIOR MEDO? O que lhe impede de avançar? O que faz sua alma tremer ? Qual é o medo que lhe impede de continuar sonhando? Pode parecer estranho essa palestra começar assim: perguntar sobre algo que nos causa terror. Mas saibam que não é minha intenção causar pânico em ninguém.
Não venho falar de medos comuns que alguns de nós temos: medo de altura. Medo de voar de avião. Medo de tubarão. Medo de falar em público. Não é sobre esses tipos de fobias que venho falar. Até porque todos nós temos medo de algo.
Hoje, nessa manhã de terça feira, quero abordar sobre um tipo totalmente diferente de medo, um tipo de medo que permeia as entranhas da nossa própria alma: o medo em relação a morte, e nesse caso, o medo em relação a morte da própria advocacia.
E para para termos essa conversa, temos que ser abertos e sinceros: A ampla maioria dos advogados têm um profundo e horripilante medo à inovação, e em especial, à inovação jurídica.
É sobre esse tipo de medo que quero falar hoje. Fiquem tranquilos, não será uma sessão de terapia. Mas as vezes, se queremos curar, é necessáro tocar o dedo na ferida (espero que nenhum médico esteja me ouvindo).
É necessário jogar luzes no quarto, abrir as cortinas e as janelas e deixar um novo ar entrar.
Mas … de onde nasce esse medo da morte da advocacia? Por que ele seria um falso medo? E que novo ar seria esse que permitiria respirar uma nova advocacia ?
Cerca de 400 anos antes de Cristo, ontem, numa terça feira qualquer, como hoje, na cidade de Atenas na Grécia, perguntaram a Pitágoras se ele se considerava um Sábio. Ele já era muito famoso pelos seus teoremas (e que todos nós advogados adorávamos estudar no colégio).
Temos que lembrar que nessa época existiam os sofistas, que em grego significa Sábio. Eram professores que arrogavam para si um conhecimento completo, acabado, total, de domínio da realidade.
Pitágoras então afirmou que ele não era sábio, um sofista, mas amigo ou amante da sabedoria, e daí surge a palavra filósofo. Essa mesma postura humildade e de reconhecimento das próprias limitações é essencial na advocacia, não somos donos da justiça, não somos donos do direito, somos amantes, apaixonados e servidores. É nosso dever sempre buscar novos caminhos, novas ferramentas, novos olhares que permitam atualizar o exercício do direito em cada época.
O direito de hoje não é igual ao que existia há 200 anos, que não é igual ao do renascimento, que não é igual ao do período grego ou romano.
Queremos ser amantes do direito e da justiça. Mas o que seria o amor? Platão na obra “O Banquete” entre os diálogos Socráticos traz uma incrível imagem sobre o que seria o amor. Para o filósofo seria fruto da união entre dois deuses.
O amor mesmo, não seria um Deus, mas um ser intermediário que conecta os homens com os deuses. Ele seria filho de Poros (a abundância) e Pênia (a escassez). O amor então, não seria nem a opulência autosufuciente e nem a total indigência e ignorância.
O amor ao direito é reconhecer que há sempre elementos essenciais e também há elementos sujeitos a alteração com o tempo. Não é uma obra completa, não está pronta, acabada, muitos capítulos serão escritos na justiça e no direito. E cabe a cada um de nós, ler a história, ler as necessidades dos tempos.
Pode parecer contraditório o que falarei agora, mas a disrupção, como muitos dizem por aí, não é ruptura, mas resgate da essência.
Pensem comigo: o ser humano sempre se locomoveu durante toda a história da humanidade, antes do surgimento da escrita já tínhamos nos espalhados em todo globo terrestre, o que muda é o modo como fazemos isso: através do cavalo, da carroça, do carro, de avião, foguete, taxi e dos aplicativos de mobilidade urbana.
Temos que fugir da visão iconoclasta de que para o novo surgir, tenhamos que destruir toda a herança do passado. Temos que reconhecer que somos como anão em costas de gigante.
Se chegamos aonde estamos foi porque àqueles que nos antecederam deram as respostas que poderiam dar no momento histórico que se encontravam. Também temos que fugir da visão de domínio e controle que permeia a atual advocacia como se o modelo atual fosse o único possível, perfeito e intocável.
Tradição sem tradicionalismo, e inovação sem iconoclastia. Os dois devem andar juntos em prol da humanidade.
Novos modelos surgem para permitir que a natureza humana continue realizando aquilo que lhe é própria. O que fazemos e o por quê fazemos muda muito pouco, o que altera substancialmente é como fazemos.
É com esse espírito de serviço, de entrega, colaboração, comunidade, respeito a tradição e a inovação que surge a AB2L em 2017 com 20 empresas de tecnologias jurídicas.
Sabíamos que algo estava mudando no direito. E queríamos liderar essa transformação. De um grupo de WhatsApp que nasce de um encontro informal entre dois dos fundadores, Matheus Bombig e Bruno Feigelson, num evento de tecnologia como esse, surge a associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.
E três desafios aparecem logo em seu início e que foram oportunidades para mostrar que algo novo estava acontecendo.
Primeiro desafio: o nome: Lawtech ou Legaltech?
Segundo desafio: teríamos apenas startups ou também empresas que já não se enquadravam nesse categoria ?
Terceiro desafio: apenas lawtechs ? Por que não escritórios de advocacia, departamentos jurídicos, prestadores de serviços, advogados autônomos e não advogados inclusive?
Todos nós sabemos que o advogado tem um espírito um pouco litigante. Um advogado sozinho na sala é capaz de pedir data venia contra si mesmo.
Mas na AB2L a resposta para esses três desafios foi a colaboração e espírito de comunidade. Era o momento de parar de dividir, categorizar. Não tínhamos tempo para perder querendo descobrir a natureza jurídica.
Era momento de somar, multiplicar. Sozinhos não conseguiríamos fazer as transformações que queríamos no direito. Comunidade não significa comum + unidade, mas múnus, dever, missão. Uma mesma missão é o que nos une. E qual seria o próposito da AB2L? Qual seria nossa missão?
[COLOCAR SLIDE DO PROPÓSITO, OBJETIVOS E VALORES]
O propósito, a missão da AB2L é conectar todo o universo jurídico à nova realidade exponencial e colaborativa. Acreditamos que a união entre o direito e novas tecnologias irá beneficiar a sociedade e a justiça.
E a partir desse múnus, criamos nossa comunidade. E fomos crescendo. Já não estávamos mais sozinhos.
A AB2L nasce com 20 lawtechs, hoje em dia são mais de 700 associados. Nesses últimos anos foram mais de 500 mentorias, 50 Hackathon,mais de 300 horas de conteúdos educacionais no AB2L PLAY, mais de 1000 dowloads nos e-books produzidos, mais de 300 e-mails com conteúdos e oportunidades profissionais.
Sempre defendemos que a advocacia é e sempre será indispensável. Mas nasce um novo modelo de advocacia. A inovação é o novo mármore. Ela que permitirá que você se destaque no mercado. Permitirá que atenda as necessidades dos seus clientes. Que crie um departamento jurídico que não seja visto como o patinho feio da empresa.
Vocês ouvirão Mary O’Carrol, ex diretora e legal Operations do Google, e Jennifer, head global de inovação jurídica do Netflix, falarem que esse desafio não é algo exclusivo do Brasil. Que mesmo dentro de uma Bigtech, inovar dentro do direito é sumamente difícil.
Vocês terão a oportunidade de conhecer na feira 65 empresas entre mais de 300 lawtechs associadas da AB2L. Visitem os estandes. Façam o propósito de contratar uma, mesmo que seja apenas para testar.
A cada visita vocês poderão preencher uma cartela na programação e trocar por prêmios no estande da AB2L.
Na sala de Workshop vocês terão palestras com CASES de sucesso de implementação e inovação jurídica em escritórios e departamentos.
Temos que amadurecer e entender que sem lawtechs você não inovará na sua advocacia, em seu tribunal ou departamento jurídico. Repito, sem Lawtech você não inova. Não, na era da hiperconectividade que vivemos. Mas também digo com toda certeza, só com as lawtechs vocês não inovarão. Explico.
É impossível falar em gestão descentralizada, onde dá liberdade aos colaboradores e centrada nas necessidades dos clientes se vocês não usam as ferramentas inovadoras de gestão, essenciais para alcançar esses objetivos: OKRS, KPIs, Kanban, NPS e legal design para citar algumas delas.
Um escritório que fala que está inovando na gestão e não usa algumas dessas ferramentas, ele está se iludindo. Está dentro da MATRIX, na toca do Coelho e perdido com a Alice no Pais das Maravilhas. Está se auto-enganando.
Por isso, em nosso congresso temos a Oficina da Advocacia 4.0 onde vocês poderão participar de exercícios e dinâmicas práticas de como fazer um OKR, como criar um documento utilizando Visual Law ou criar um projeto através de Legal Design. Saiam da MATRIX.
A inovação só será completa se ela for alicerçado nos 3 pilares: tecnologia, gestão e cultura com novas ferramentas que surgem na quarta revolução industrial. Esse tripé é o que eu chamo de Gestão Jurídica 4.0 ou Gestão Exponencial.
Atualmente três são os grandes desafios em relação a inovação jurídica: cultura, modelo de serviços jurídicos e dados.
Recentemente, fomos com um comitê da AB2L para a Inglaterra. Visitamos os maiores escritórios de advocacia do mundo, encontramos com fundadores de Lawtechs, conhecemos a Law Society e conversamos com pesquisadores, professores e advogados para entender o ecossistema de inovação jurídica na Inglaterra.
E todos foram unânimes em dizer que o maior desafio é cultural. Há novos modelos de gestão, há novas ferramentas tecnológicas. Mas ainda há uma mentalidade desalinhada com a realidade.
Richard Susskind confirmou isso. Isabel Parker, que escreveu a obra “transformação digital no direito”, disse a mesma coisa. E Christina Blacklaw, ex presidente da Law Society, também afirmou que o maior desafio para inovação está na própria advocacia, na forma como enxergamos o mundo.
Se você deseja resultados diferentes, deve fazer diferente. Por exemplo, falamos tanto em justiça Multiportas, mas desde que as portas e os porteiros sejam os mesmos.
Acompanhei de perto o quanto o Consumidor.Gov foi criticado ao oferecer um novo modelo de resolução de conflitos, que mostrou-se sumamente eficaz, resolvendo mais de 2 milhões de conflitos com 80% de eficácia. Uma vez, conheci um juiz que recebeu pedidos contra algumas de suas decisões porque elas tinham sido escritas na máquina de escrever e não com o próprio punho e letra. O argumento: não eram decisões personalissímas.
Queremos fazer diferente, desde que não seja tão diferente assim. Uma vez visitando um grande escritório ele reclamava que por dia recebiam mais de 200 mil mensagens e queria saber como melhorar o fluxo de e-mails para não deixar de atender no prazo adequado a todos os clientes.
Eu respondi que não deveriam ter e-mails como porta de entrada para atender as demandas dos clientes.
Não há pior decisão do que automatizar processos ruins. Você só escala o problema. Vivemos atualmente uma primeira era da disrupção ou da digitalização do direito, digitalizamos através de uma lógica analógico. E isso foi essencial para melhorar nosso sistema de justiça e deu certo.
É necessário uma segunda era da disrupção que é repensar o próprio direito a partir de uma lógica tecnologia. Discutiremos a segunda era da disrupção em um dos painéis.
Outra vez, um escritório veio me procurar comentando que as lawtechs de mediação estavam atuando nos departamentos jurídicos, diminuindo as demandas para os escritórios. E me perguntaram sobre o que eles poderiam fazer. Pensei comigo mesmo e perguntei: por que vocês não são donos e investidores de lawtechs?
Sabemos que no Brasil o modelo de sociedade de advogados possui algumas características que impedem isso. Mas olhemos para o mundo.
O mercantilismo acabou há mais de 200 anos e ainda utilizamos essa expressão como um forma de freiar a busca de novos caminhos para a oferta de serviços jurídicos. Tudo que cheira a um pouco diferente, é categorizado como mercantilização da advocacia. Por que o medo a abrir-se ao novo? Novamente, queremos resultados diferentes, fazendo as mesmas coisas.
Imagine novas estruturas societárias jurídicas que permitam receber e fazer investimentos. Que possam ter como sócios não-advogados. Separar a responsabilidade da pessoa física, da pessoa jurídica. Uma real e profunda interdisciplinaridade e diversidade na composição estrutural que seja verdadeira. Mas novamente, queremos resultados diferentes, fazendo as mesmas coisas.
Desde 2007, existe na Inglaterra o Legal Service Act, uma lei que permitiu o surgimento de estruturas societárias diferenciadas de um escritório de advocacia, liderados por advogados e que podem também atuar no mercado jurídico.
Conversando com um dos ex-presidentes da Law Society (que seria uma espécie de OAB da Inglaterra). Ela comentou que tal iniciativa foi sumamente positiva, pois o mundo jurídico se profissionalizou ainda mais, melhorando a oferta e entrega de serviços para seus clientes. O bolo só cresceu, novas empresas surgiram permitindo absorver dentro de suas estruturas advogados tanto da Inglaterra, quanto de outros paises. Pensar diferente, fazer diferente para alcançar resultados diferentes.
Este movimento está acontecendo na Europa como um todo. Espanha e Portugal estão revendo seus modelos. Nos EUA há nesse exato momento um sandbox para abertura do mercado jurídico.
Os advogados serão substituidos? É um falso paradigma, um medo infundado. Com as novas tecnologias novos campos de atuação surgem no direito: legal design, visual law, DPO, engenheiro jurídico, arquiteto jurídico, marketing jurídico, legal operations. Faltam advogados que saibam estruturar um projeto de NFT, que construam um Smart Contract, que atendam dos modelos societários e de contratos das Startups.
O advogado é e sempre será indispensável, mas um novo modelo de advocacia surge, com novas formas de atuação.
Outro grande desafio está em relação ao uso de dados. Temos o principio constitucional da publicidade dos atos processuais como uma forma de dar transparência, accountibility e diminuir a assimetria da informação.
Em alguns paineis, falaremos de como essa cultura baseada em dados permite a geração de informações sumamente importantes para a Justiça e para a Advocacia poderem atuar de forma mais assertiva passando de um direito data achismo, para um direito DATA DRIVEN.
No dia 25 de dezembro de 1937, durante um jogo na Inglaterra, a neblina ficou tão espessa que o jogo foi paralizado. Nessa foto, vemos o goleiro Bartram, ele ficou 15 minutos defendendo o gol de um jogo que já não existia mais. A neblina era tão forte que ele não conseguiu ouvir e ver que o jogo não estava mais acontecendo.
Cegado pela Neblina defendia seu gol contra um adversário que não existia. Muitas vezes, é um ser imaginário que domina nossa mente e nos impede de ver com clareza e entender que tudo mudou, então vem o medo.
Vivemos na época de ouro da advocacia, nunca tantas oportunidades foram colocadas a mesa. Pense só em apenas uma grande iniciativa do judiciario: a justiça 100% digital. Seu escritório e campo de atuação agora não se restringe apenas aos metros quadrados da sua cidade, mas é o Brasil, o mundo.
Existe um poeta místico espanhol que admiro muito: São João da Cruz. Ele é conhecido como o Doutor do Tudo e do Nada, leio um de seus mais famosos versos:
“Para chegares a ser tudo,
não queiras ser coisa alguma.
Para chegares a saber tudo,
não queiras saber coisa alguma.
Para chegares ao que não sabes,
hás de ir por onde não sabes.
Para vires ao que não possuis,
hás de ir por onde não possuis.
Para chegares ao que não és,
hás de ir por onde não és.”
– São João da Cruz
Lembremos sempre que somos simples amantes e servidores da justiça. Não deixemos que o medo tome conta de nossos corações.
Vivamos com a liberdade de quem tem a certeza de que mais do que nunca nossa sociedade precisa de mulheres e homens corajosos, desbravadores, que queiram fazer diferente e façam diferente, capazes de inovarem no direito de verdade. Não tenham medo, abram suas mentes para uma nova advocacia.
Muito obrigado.
Daniel Marques
Diretor da Ass. Brasileira de Lawtechs e Legaltechs
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