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Os dez pontos que realmente interessam sobre o Bitcoin

Publicado em
2815

Após o Bitcoin ter ultrapassado o marco dos US$ 15.000 [neste exato momento, um Bitcoin vale R$ 55.000], a mídia financeira convencional finalmente começou a se dar conta de que esse negócio realmente é importante.

Os veículos estão alvoroçados e atabalhoados, tentando entender o significado de tudo isso. Alguns reforçaram a aposta na velha tese de que tudo não passa de um embuste; outros apenas desprezam o fenômeno dizendo que ele nada mais é do que uma bolha (com efeito, todos os modelos financeiros sugerem que uma correção de preços é necessária). Alguns medalhões, como Joseph Stiglitz, já exigiram que o Bitcoin seja banido, como se fosse possível banir um protocolo matemático.

As confusões abundam. Tendo acompanhado o desenvolvimento desta tecnologia desde 2010, eis os dez pontos que considero mais importantes sobre o Bitcoin e todo o setor de criptoativos.

1. Não foi inventado pelo governo

Desde a antiguidade, alega-se que o dinheiro pertence à esfera do governo, o qual não só deve salvaguardar a moeda, como também deve criá-la, impingi-la sobre todos e gerenciá-la.

Sempre se acreditou que o dinheiro foi criado pelo estado. Com efeito, no final do século XIX, toda uma escola de pensamento econômico foi criada em torno dessa ideia: a Teoria Estatal da Moeda. Este tratado escrito por Georg Friedrich Knapp surgiu em 1905 (com tradução para o inglês em 1924) e ajudou a fortalecer a noção de que todo o dinheiro de um país (à época, o ouro) não só pertence ao âmbito do governo, como também deve ser colocado sob o estrito controle de um Banco Central.

Mas Carl Menger já havia explicado que não era assim. A moeda boa sempre surgiu das transações livres feitas pelos indivíduos e do empreendedorismo. Foi isso o que ocorreu ao longo da história humana. Foi só depois que os governos se apossaram delas, efetivamente as estatizando.

E o Bitcoin mostra que Menger estava certo e que os defensores da teoria estatal da moeda estavam errados.

2. Não foi inventado pela academia

O protocolo do Bitcoin foi criado por um programador anônimo, o qual o enviou para uma pequena lista de email. Dali, o protocolo se difundiu.

Os economistas acadêmicos — para não mencionar os cientistas políticos e os sociólogos — ficaram totalmente de fora do arranjo.

Isso é fascinante porque a hierarquia intelectual convencional sempre coloca a academia no topo e todo o resto do populacho abaixo. Diz-se que os diplomados e Ph.Ds determinam o curso da história e, como consequência, todo o resto da humanidade se beneficia disso — como se as idéias seguissem uma estrutura de produção pré-determinada, de cima para baixo.

A falácia dessa teoria foi explicitada pelo surgimento do capitalismo, quando os praticantes, e não os teóricos, começaram a implantar todas as boas idéias. E então o contra-ataque intelectual veio no século XX: os especialistas — keynesianos, fascistas, socialistas, comunistas e nazistas — é que deveriam gerenciar a sociedade. Deu no que deu.

Hoje, de novo, estamos (re)descobrindo esse antigo fenômeno, o qual continua fascinante: as melhores idéias vêm daqueles que fazem o trabalho prático.

3. Nem tudo é sobre o Bitcoin

De certa forma, os astronômicos retornos trazidos pela criptomoeda acabam distraindo e desviando a atenção da real genialidade tecnológica que está na base da criação: o livro-contábil — ou livro de registros — chamado Blockchain.

Todas as transações feitas no mundo inteiro com a moeda estão registradas ali. Toda vez que uma transação é feita, um novo código é gerado e adicionado ao código preexistente do Bitcoin, tornando impossível sua falsificação. Para um hacker roubar um bitcoin, ele precisaria hackear todos os computadores da rede ao mesmo tempo.

Essa tecnologia gerou um setor financeiro tão grande quanto o próprio Bitcoin, com milhares de aplicações, incluindo todas as formas de contrato. O Blockchain pode até mesmo levar a reviravolta na relação entre o indivíduo e o estado.

O detalhe mais importante a ser entendido sobre a tecnologia é este: trata-se da melhor maneira até hoje já inventada para documentar e impingir reivindicações de títulos de propriedade. Em outras palavras, trata-se de uma tecnologia de registros de títulos de propriedade que conta com um livro-contábil praticamente imutável — uma vez efetuado o registro, é computacionalmente impraticável revertê-lo.

Se você não entende o significado dessa afirmação, lamento, mas você não entende o valor dessa tecnologia.

4. As velhas regulamentações não funcionarão

Essa tecnologia é completamente nova, ao passo que todo o atual aparato financeiro e regulatório depende de uma tecnologia mais antiga, a qual deve ser manuseada impositivamente para funcionar de uma determinada maneira. Apenas alterar as regulações vigentes para adaptá-las a essa nova tecnologia é algo que simplesmente não tem como funcionar. Irá apenas criar bagunça e confusão, desacelerando o progresso, mas jamais o impedindo.

Burocracias estabelecidas e grupos de interesse contrários a essa tecnologia irão brigar e espernear, mas nada pode deter essa revolução, a qual é digital e sem fronteiras, o que a torna impossível de ser controlada.

Ademais, regulações, por si sós, não têm poder para reverter tendências. Você realmente acredita que se o governo houvesse banido, por exemplo, a eletricidade, o motor de combustão interna, os computadores e os aviões, tais invenções teriam sido interrompidas e jamais existiriam? Governos são apenas um aborrecimento; nunca são os autores da história.

5. O dinheiro será concorrencial

Várias pessoas vêem os atuais acontecimentos como uma batalha entre o dólar e o Bitcoin. Isso é extremamente simplista e reducionista. A verdadeira batalha é entre o dinheiro estatal monopolizado pelo governo e um recém-criado sistema concorrencial. Essa concorrência se dá entre criptomoedas e criptoativos.

As pessoas querem saber quem será o vencedor. Mas isso também é um pensamento típico do mundo velho. O processo concorrencial nunca irá acabar. Eventuais vitórias serão temporárias, e um novo desafiante surgirá e ganhará os holofotes. Este é um novo mundo. Nenhuma pessoa viva sabe como ocorrerá tudo isso, pois a moeda estatal sempre foi protegida pelo estado das pressões de mercado. Especificamente os americanos terão de se acostumar a um mundo em que o dólar não mais será rei.

6. O sistema bancário e o crédito irão mudar

Toda a instituição do Banco Central se baseia na ideia de um monopólio monetário, o qual, por consequência, permite o total controle sobre a macroeconomia.

Já a criptomoeda não precisa se tornar o mais usado dos ativos para destruir toda essa presunção. Tudo o que ela precisa fazer é apenas destruir o monopólio. E, com um valor de mercado de meio trilhão de dólares, isso pode até já ter acontecido.

Ademais, o sistema de redes distribuídas unificou a moeda e os sistemas de pagamento, abolindo a necessidade de haver atravessadores (sistema bancário). Consequentemente, sistemas antiquados de processamento e compensação de transações financeiras (bancos e Banco Central) irão se tornar obsoletos, assim como a atual maneira como se concede crédito. Novos entrantes estão surgindo diariamente.

7. Os desbancarizados também têm direitos

Estima-se que o número de pessoas que não possuem conta em banco — os desbancarizados — seja de dois bilhões. Mas tal número certamente está subestimado. Pense em todo o mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento, mas não se limite a isso.

Onde vivo (Atlanta, EUA), os desbancarizados estão por todos os cantos, e eles são desbancarizados por uma variedade de razões. Alguns temem intrusões em sua privacidade. Outros possuem estilos de vida e fontes de renda que não são enquadrados como convencionais. Alguns têm profissões atípicas e intermitentes. E outros são jovens demais. Talvez seja uma tradição familiar. Ou então eles temem ser capturados pelo sistema. E isso tudo em uma cidade grande no país mais rico do mundo. Já em países mais pobres, os pobres não têm conta em banco simplesmente por serem considerados não-qualificados pelo próprio sistema bancário.

Qualquer que seja o motivo da desbancarização, é inquestionável que tais pessoas ainda assim têm direitos econômicos, e a tecnologia Blockchain lhes dá uma opção. Pela primeira vez na história, essas pessoas podem transacionar digitalmente sem depender do sistema bancário.

Estas são as pessoas que irão estimular o empreendedorismo neste setor.

8. Ninguém estará no comando

A tecnologia Blockchain não possui um ponto único de falha. Também não possui uma capacidade de controle abrangente e universal. Embora os intermediadores financeiros não sejam completamente removidos do arranjo, eles não são essenciais. Os sistemas do passado, regulados pelo governo, se degeneraram em cartéis (como sempre ocorre); os sistemas do futuro serão cada vez mais descentralizados, com uma contínua e irreversível desintermediação.

Qualquer um que almeje o controle total irá diariamente vivenciar ilusões despedaçadas. Isso vale tanto para grandes conglomerados financeiros quanto para governos. O fundamento lógico das políticas tradicionais está arraigado na presunção de que uma visão única deve ser imposta sobre todos. Já o futuro descentralizado estará arraigado na realidade de que haverá disrupturas contínuas. Nenhuma ideologia pode parar isso.

9. É um modelo para tudo

O Bitcoin não diz respeito apenas ao Bitcoin. É algo muito maior. Acima de tudo, é sobre a liberdade humana. Seres humanos não foram feitos para viver enjaulados em arranjos construídos artificialmente por governos, utilizando apenas os meios de troca e os sistemas permitidos pelo governo. O objetivo da vida humana sempre foi o de encontrar um caminho para a liberdade.

Governos e seus lacaios sempre escarneceram e tripudiaram de toda esta revolução, desde 2009 até hoje. Não há como um pássaro fugir, disseram eles.

Agora já é tarde demais.

10. Ninguém sabe o futuro

Ninguém poderia ter antecipado que isso ocorreria. Ninguém é capaz de saber exatamente o que irá ocorrer mais à frente. O futuro será na base da contribuição colaborativa.

Este aparente caos irá se encaminhar espontaneamente para a ordem harmoniosa, maciçamente aprimorando a vida na terra.

Exatamente como tem de ser.

Fonte https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2815

Por Jeffrey Tucker

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