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Fake news: o que temos a ver com isso?

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Em ano de eleições e no contexto político que nos encontramos, vivenciar enxurradas de fake news não parece ser algo surpreendente. Se, por um lado, ainda é difícil uma definição precisa do que elas sejam, por outro, pode-se dizer que, no mínimo, o assunto está em pauta no nosso cotidiano digital. Mas o que de fato é isso? Como isso nos afeta e como podemos evitar sermos mais um agente disseminador de mentiras?

Falar sobre fake news é bastante desafiador porque nos remete a vários outros temas que, por vezes os circundam, por outras, se misturam, de modo que a falta de clareza sobre o que se fala pode levar o leitor a confusões sobre o entendimento.

Assim, em primeiro lugar, cabe esclarecer que o termo ficou em maior evidência a partir das eleições norte-americanas de 2016, precisamente no mês de novembro. Naquela oportunidade dizia-se que a então candidata Hillary Clinton havia guardado cédulas de voto fraudulentas em galpões. Também, Donald Trump dizia frequentemente que notícias veiculadas sobre ele, quando o desagradava, eram fake news.

Apesar da recente exposição do termo, sua existência remete-nos a tempos remotos. Diz-se que Marco Antônio suicidou-se por ter recebido notícias falsas que davam Cleópatra como morta (30 a. C.). Também se fala que Benjamin Franklin, em 1782, teria publicado uma edição falsa de um jornal de Boston, com uma história inverídica sobre matança massiva de colonos brancos nas fronteiras de Nova York. Em 1835 o The New York Sun publicou uma série de seis artigos que descreviam a descoberta de civilização de alienígenas na Lua, creditando ao astrônomo John Herschel a descoberta.

Mas, relatar estes episódios não define o que sejam as fake news. Vamos analisar brevemente, então, alguns de seus elementos.

Considerados os exemplos acima e o contexto mais recente da proliferação do termo, podemos dizer, então, que há elementos antigos e novos nessa questão. O elemento antigo se apresenta a partir da constatação de que se mente por propósitos políticos. O elemento mais recente se mostra presente na ampla divulgação que nós mesmos fazemos das falsas notícias a partir das facilidades propiciadas pela tecnologia.

Então, o que parece ser crucial para a definição do que sejam as fake news não são estes elementos, mas o fato de que as formas noticiosas têm ganhado contornos cada vez mais profissionais e com objetivos bastante específicos. O pior de tudo isso é que elas conseguem engajar o público, o que se mostra um importante agravante.

Podemos definir, então, as fake news como notícias falsas, com formas noticiosas similares às profissionais e amplamente disseminadas com o uso da tecnologia, com importante grau de convencimento dos leitores. Entendemos que essa definição é suficiente para diferenciá-las de boatos, que são rumores mais genéricos, quase sempre sem procedência, sem propósitos específicos e que, normalmente, não engajam tão eficazmente o público.

As fake news seriam, portanto, a profissionalização dos boatos.

Mas a conceituação acima apresentada não basta como solução para o assunto. Há outros problemas! É que a complexidade do tema dificulta demais a compreensão do que fazer para combater as mentiras. E, para demonstrar essa complexidade, vamos enumerar situações relacionadas às fake news que, se não forem bem delineadas, certamente tumultuarão os debates.

Um tema de evidente correlação é a liberdade de expressão. Isso porque é bastante natural que as pessoas pensem que se há mentiras divulgadas e possíveis prejuízos a alguém, então isso deveria ser proibido. A grande questão aqui é sobre quem terá o condão de declarar o que são ou não fake news, o que, evidentemente, passa por discussões sobre quem pode dizer o quê. Em um regime democrático onde se deve privilegiar a liberdade de expressão isso é bastante perigoso.

Liberdade de expressão, aliás, é tema que também se conecta com outro, o dos crimes contra a honra, onde serão questionados os limites, por exemplo, de comentários desfavoráveis, o que gera análises muitas vezes controversas sobre postagens.

O emaranhado de temas segue com relações óbvias a debates eleitorais, precisamente relacionando candidatos, eleitos e supostos analistas/jornalistas, que costumam se engalfinhar nas mídias sociais, ainda mais em anos de eleição.

Não podemos deixar de comentar, ainda, que as fake news podem estar conectadas a algoritmos. Isso porque não vemos tudo o que postam nas mídias sociais. Os algoritmos das plataformas escolhem o que veremos e, por esta razão é fundamental que as falsas notícias consigam a penetração, superando filtros e aparecendo nos feeds de cada um de nós. O Facebook, por exemplo, possui um EdgeRank, algoritmo que filtra as postagens baseando-se em critérios como afinidade com os demais contatos da rede, relevância do tema para o contato e, ainda, o tempo da postagem (as mais recentes têm mais chances). Por fim e não menos importante, as fake news podem estar ligadas ao tema “proteção de dados”. Como exemplo, basta citar o caso “Cambridge Analytica”.

Verifica-se, então, que as fake news podem nos afetar de diversas formas, em variados graus e com distintas consequências. Podemos ser alvo de injúrias, calúnias e difamações, seletividade de conteúdo sem nossa anuência, e, ainda, vítimas de sórdidos esquemas com vistas a angariar votos a determinados candidatos. Aliás, sobre este tema, vide o excelente artigo do amigo Paulo Silvestre, “Este ano elegeremos o Presidente em um videogame”

Fica, claro, então, como as fake news podem afetar nossas vidas.

Há, então, fatalmente uma pergunta que ainda precisa ser respondida para que tenhamos alguma tranquilidade ao tratar do assunto: o que podemos fazer para evitar que sejamos apenas mais um agente disseminador de mentiras?

Em primeiro lugar é importar ler toda a suposta notícia, já que muitas vezes a chamada é claramente bombástica e o texto pode não guardar correspondência com a chamada. Ideal, ainda, checar os fatos e personagens. Algumas poucas e rápidas buscas podem indicar que as pessoas lá mencionadas sequer existem, ou apontar grandes incongruências entre nomes, cargos e funções. Vale lembrar, ainda, de ver a data de publicação, já que muitas vezes as fake news são uma tentativa de requentar fatos antigos e que já haviam sido superados de alguma forma. Então, uma boa forma de checagem é procurar a mesma notícia em outras fontes.

É fundamental, também, controlar as emoções. Grande parte das fake news têm a clara intenção de provocar animosidade, revolta no leitor, tudo com vistas a engajá-lo a compartilhar o texto.

Podemos ter em mente, então, que grande parte da responsabilidade pela disseminação das fake news decorre da irresponsabilidade ou alienação das pessoas que as leem e compartilham. Afinal, a disseminação, ainda que feita por mecanismos automatizados (hoje é feita também por bots) só engaja e causa desinformação crítica com o atingimento e participação de pessoas.

Resta refletir, então, qual tem sido o papel de cada um de nós em face das fake news. Eu tenho feito a checagem de fatos. E você?

 

Por Marcelo Crespo

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/fake-news-o-que-temos-ver-com-isso-marcelo-crespo-phd-ccep-i/

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