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Comunicação Não-Violenta: Gerindo as emoções e nutrindo conexão.

Texto de Andrea Maia Brayer, CEO da Mediar360, Vice Presidente de Mediação do CBMA e Membro do Conselho de Administração da AB2L, exclusivo para o Observatório AB2L
Publicado em
Paper craft art of speech bubble icon
Imagem: Freepik

Qual a maior diferença de nós, seres humanos, para os outros animais de maneira geral?

A resposta para essa pergunta, muitas vezes, parece óbvia: nossa inteligência. Pode até ser, mas como seria se você, com toda a sua inteligência, capacidade de raciocínio e seus livros viajasse agora no tempo para os primórdios da humanidade?  Será que sobreviveria em um ambiente hostil? Um ambiente onde animais maiores, mais fortes, mais rápidos, peçonhentos ou voadores, capazes de se camuflar, seriam uma ameaça ou um perigo permanente à sua existência.

O que fez o ser humano evoluir de um ser pequeno, frágil, sem muitas habilidades físicas extraordinárias, para a espécie que dita as regras do jogo no seu planeta?

O que trouxe a humanidade até aqui foi o que hoje chamamos de inteligência colaborativa. A capacidade de juntar diferentes expertises, habilidades e visões de mundo, visando algo maior, como a sobrevivência de seu grupo em meio a uma selva. O nosso cérebro se desenvolveu partindo dessa premissa de que precisamos ser sociáveis e colaborativos para podermos sobreviver. Um exemplo mais atual: o Steve Jobs, com toda a sua inteligência, seria capaz de materializar sozinho um iPhone? O Elon Musk conseguiria criar, sozinho, um propulsor de foguetes reutilizável, quebrando todos paradigmas da engenharia espacial?

Todos esses exemplos, entre tantos, se referem a formas mais complexas de colaboração entre seres humanos para criarem coisas extraordinárias para o desenvolvimento da humanidade. Porém, o “X” da questão, e o que me interessa trazer para a nossa reflexão, é que uma das formas mais elementares de praticar a inteligência colaborativa é por meio da comunicação.

Do tempo das cavernas para os dias de hoje.

Hoje, vivemos cercados por inúmeras plataformas que permitem nos comunicar com outras pessoas; convenhamos, por outro lado, nunca estivemos com tanta dificuldade de estabelecer um diálogo aberto, sensato e sadio.

A cultura do cancelamento, os “haters” e tantas outras coisas são sintomas da falta de habilidade em desenvolver um entendimento, usando da pior maneira possível essa ferramenta poderosa da internet.

O mau uso das redes sociais trouxe à tona uma desconexão, por vezes, da própria humanidade e, até por sobrevivência, precisamos virar essa chave.

A boa notícia é que não precisamos criar algo novo, apenas mudar nossos hábitos de saber se comunicar como pessoas que conseguiram sair das cavernas e explorar o espaço.

Uma dessas formas é através da Comunicação Não-Violenta (ou CNV). Você pode ter ouvido falar desse termo em algum momento… Comunicação Não-Violenta, para além de uma forma de se comunicar, é um sistema de comunicação que propicia a reconexão com a nossa própria humanidade e a humanidade do outro, sendo considerada um verdadeiro estilo de vida. Criada pelo psicólogo americano, Marshall Rosenberg –  autor de vários livros sobre o tema – ela é um poderoso caminho para o desenvolvimento da inteligência emocional e da transformação de conflitos.

Rosenberg, que trabalhava diretamente com questões de segregação racial, conflitos sociais, urbanos, familiares e de organizações, desenvolveu esse sistema que é vivenciado por profissionais de inúmeras áreas. Ele define a CNV como uma forma de abordar um diálogo que compreenda as habilidades de falar e ouvir, de forma que cada indivíduo exponha seus sentimentos, levando os indivíduos a se abrirem, possibilitando a conexão consigo mesmos e com os outros, permitindo que se desenvolva empatia durante o processo.

Aliás, a prática da Comunicação Não-Violenta , não é uma forma de evitar conflitos, mas sim de ensinar a conviver e lidar com eles de maneira mais assertiva e construtiva.

Aqui nesse ponto alguns leitores vão afirmar: “Conflitos são coisas ruins e desgastantes. Por que devemos saber encará-los?” 

Se tem uma coisa que aprendi em todos esses anos de carreira como mediadora de conflitos e disputas, seja entre pessoas físicas e, principalmente, empresas, é que, se os conflitos são inevitáveis em nossas vidas, saber construir uma resolução bem feita e um acordo sólido funcionam como uma espécie de efeito rebote para manutenção ou, até mesmo, uma forma de melhorar um relacionamento, pois conseguimos ajudar as pessoas a estabelecerem um diálogo saudável. É aí que a CNV faz toda a diferença!

É um conceito bem vasto e interessante de ser estudado para uma melhor aplicação, e indico que você leia o livro “Comunicação Não Violenta”, do Marshall Rosenberg , pois é uma verdadeira bíblia da CNV. Todavia, quero trazer pra você algumas premissas desse conceito para, quem sabe, abrir a sua mente e dar um start em uma mudança de mindset imediatamente, ser for caso.

A CNV possui 4 componentes:

Observação: nela você busca falar sobre o fato em si, da forma mais neutra possível, ou seja, livre da sua interpretação pessoal. É importante evitar julgamentos e não levar para o lado pessoal.

Evitamos o julgamento porque ele atua como boqueio à conexão, diminuindo as chances de uma escuta aberta por parte do receptor.

Emoção/Sentimento: experimente mapear as nuances emocionais e sentimentais envolvidas no contexto. Tente dar nome ao que está sentindo, como: raiva, alegria, ansiedade, frustração, satisfação etc. O sentimento funciona como um alerta das suas necessidades atendidas ou não atendidas.

Necessidades: É importante identificar as suas necessidades para se conectar com o que é mais importante para você no momento: aquilo que você quer cuidar. 

Quando alguém expressa suas necessidades com consciência, as chances delas serem atendidas aumentam, afinal são universais e conectam todos os seres humanos. Aqui vale revisitar a Pirâmide de Maslow. 

Todos desejamos ter em nossas vidas respeito, reconhecimento, justiça, paz, amor.

Pedido: Somente expressar sentimentos e necessidades não é suficiente para uma maior clareza na comunicação. É importante comunicar de que forma, especificamente, você gostaria de atender estas necessidades.  

O que você gostaria de pedir a si mesmo ou para outra pessoa? Quanto mais específico for o seu pedido melhor, para que o outro, sabendo o que – exatamente – você quer, tenha uma consciência maior sobre as próprias possibilidades de atender ou não a este pedido, e responda com um “sim” ou “não” genuíno.

Um exemplo de utilização da CNV seria:

Vi que você não entregou o material da campanha do nosso principal cliente, hoje, como combinamos (observação), e estou muito preocupada (sentimento) porque atender as demandas da empresa com organização e eficiência (necessidades), é muito importante para mim. Será que você poderia entregar o material até as 12h de amanhã? Como fica esse prazo para você? 

Esses pilares são importantes para você planejar o seu posicionamento e saber administrar a forma como você se comunica e como recebe a resposta do outro lado, lhe dando melhores condições de responder e de negociar.

É importante deixar claro que, no exemplo em questão, seria indicado dedicar tempo para escutar o outro, buscando compreender as suas necessidades – poderia ser de suporte, talvez, por ter assumido um número de campanhas incompatível com sua disponibilidade – a fim de traçarem, juntos, novos caminhos para garantir o cumprimento dos prazos. 

A propósito, a negociação bebe muito da CNV! Para quem quer (ou precisa) trabalhar com negociação, é indispensável saber como utilizar essa metodologia.

Por fim, existem alguns benefícios que a CNV pode trazer para o seu comportamento cotidiano, seja no trabalho ou na sua vida pessoal, como a assertividade e a empatia.

Essas duas características comportamentais são consideradas duas das mais importantes soft skills que o mercado de trabalho procura, além de despertarem uma espécie de efeito dominó, ajudando a estimular diálogos saudáveis, confiança e até mesmo que pessoas ao seu redor lhe identifiquem como líder.

O que eu posso lhe dizer, e aconselhar, é que a CNV pode sim mudar a sua vida e ser uma forma muito construtiva para que você desenvolva relações melhores. Isso vale desde uma reunião a um debate na rede social. 

Experimente quebrar o ciclo do conflito propondo soluções, validando o que o outro demonstra sentir e o que se demanda. Ao mesmo tempo, vale a pena  colocar na mesa as suas necessidades e os seus sentimentos. Confia em mim, isso fará toda a diferença!

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