A AB2L iniciou suas atividades em 2017 e, desde então, escreve os capítulos de uma história que tem muito para contar sobre o ecossistema de tecnologia jurídica.
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Texto de Bruno Figueiroa, Agile Specialist na Lawgile, exclusivo para o Observatório AB2L
Recentemente, uma pesquisa realizada pela Leaders League constatou que aproximadamente 57% dos advogados trabalham mais de 50h por semana e mais de 20% deles possui uma jornada diária média de 12h.
De fato, o trabalho para a maioria dos advogados parece ser infinito. Mais de 50% dos profissionais que responderam a pesquisa afirmaram que já fizeram uso de antidepressivos ou ansiolíticos para lidar com o excesso de trabalho.
Mas a verdade é que a pandemia apenas acelerou uma constatação que já era evidente: o mundo jurídico está adoecendo. E boa parte disso é um reflexo direto do modelo de gestão adotado pela maioria dos escritórios no Brasil.
Enquanto que os advogados estão sendo levados à exaustão com a sobrecarga de trabalho nos escritórios e os índices de burnout estão cada vez mais alarmantes, o volume de demandas segue aumentando e a forma de gerir – as tarefas, os times e o próprio escritório – permanece o mesmo desde sempre.
Quase não há interação entre os pares e a comunicação com os sócios e/ou gestores só naquilo que é essencial. Espaço para fala, compartilhamento de sugestões de melhorias e feedbacks – aos gestores, inclusive -, então, nem pensar.
O trabalho e a cobrança só se acumula e a sensação é mesmo de esgotamento.
Mas será que precisa mesmo ser assim?
Olhando sob um ponto de vista ainda mais amplo, temos atualmente no Brasil mais de 1,2 milhão de advogados em exercício e mais de 80 mil novos profissionais despejados a cada ano no mercado de trabalho.
Então como sobreviver a um cenário de alta competitividade e que o volume de trabalho está cada vez maior, se utilizamos um modelo de gestão não inclusivo, que não dá voz aos advogados e nem estimula a inovação e criatividade?
Simplesmente não dá.
Daí a necessidade de pararmos um pouco e refletir sobre os novos modelos de gestão que existem ao redor do planeta.
Google, Amazon, Facebook, Spotify, Netflix, o que essas, entre outras startups que tiveram um crescimento tão acelerado nos últimos anos, têm em comum? Será que o ritmo de trabalho nessas empresas é tão intenso a ponto de custar a saúde mental dos seus colaboradores ou nós que não estamos sabendo agir da maneira correta? O que existe de diferente na gestão delas que pode ser aplicado na nossa profissão? Ou melhor, quais elementos presentes nessas empresas podem ajudar nós, advogados, a crescer de uma forma saudável e nos destacar no mercado?
Após alguns anos estudando – e vivenciando diariamente – o universo das startups e seus modelos de gestão, listo abaixo três características fundamentais dessas empresas e que podem ser facilmente aplicadas no dia a dia de qualquer advogado.
Estratégia clara para todos
Todas as empresas que citei acima possuem em comum um Propósito Transformador Massivo (PTM), isto é, uma razão de existir tão clara e específica a ponto de recrutar uma legião de fãs e admiradores da marca ao redor do mundo, mas também de direcionar todas as iniciativas e projetos internos de todos os milhares de colaboradores ao caminho certo.
Enquanto que no mundo jurídico, as ações estratégicas são acompanhadas pelo topo da pirâmide, com os sócios do escritório, nessas empresas todo o direcionamento estratégico da companhia é comunicado para os seus colaboradores, através de objetivos e resultados chaves (OKR’s) claros e bem definidos para o próximo trimestre.
A partir daí, todos os funcionários passam a ter clareza para onde a organização pretende ir e o que cada um, seja no time, individualmente ou nos projetos em que participa, consegue contribuir para alcançar o objetivo pretendido.
Voltando para a nossa realidade, vale a reflexão: qual o principal objetivo do seu escritório para os próximos três meses? Em quais áreas ou segmentos da indústria o escritório pretende se solidificar no mercado? Quantos clientes devem ser captados? Quais resultados chaves vão indicar se você está indo na direção certa?
Independente das respostas, definir essa estratégia e comunicá-la a todos os advogados será o primeiro passo para usufruir de uma gestão mais eficiente e inclusiva. Já diria o mestre Raul, “sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”.
Análise de dados
Seja lá qual for seu tipo de atuação, saiba que é possível medir o seu trabalho através de dados e aprender continuamente com eles.
Dentro do universo das startups, decisões são tomadas baseadas em dados, não em meros achismos. Por isso, é fundamental analisar métricas e indicadores da sua atividade e que lhe ajudarão a chegar próximo ao objetivo almejado.
Quantos clientes foram captados no último mês? Qual o faturamento do escritório? Quanto falta para bater a meta estipulada? Quantas novos processos foram recebidos no mês atual? E nos meses anteriores? Como está a distribuição de processos/advogado e qual a produtividade média deles?
A análise desses indicadores vai ajudar você, advogado, a tirar o foco do operacional e focar muito mais na gestão estratégica da sua atuação e da sua equipe, inclusive prevenindo casos como burnout e o acúmulo indevido de demandas num só profissional.
Nesse sentido, o uso de um quadro Kanban, para auxiliar a gestão das tarefas do advogado, torna-se fundamental.
Cultura de aprendizado
Outro ponto fundamental presente nessas organizações é a abertura que elas possuem para dar e receber feedbacks – note-se que é não apenas dar, como ocorre hoje no mundo jurídico (do líder para o liderado, é claro).
Ter uma cultura de aprendizado é extremamente necessário para qualquer negócio prosperar nesta nova economia. Nenhum negócio consegue se sustentar no mundo atual sem dar voz às pessoas que compõem aquela empresa, porque é humanamente impossível que uma ou poucas pessoas consigam responder com precisão todos os desafios da atualidade e do mundo complexo em que vivemos.
É preciso abandonar a cultura de aversão ao erro que existe no mundo jurídico, dar voz às pessoas e oportunizá-las trabalhar em ambientes em que se sintam seguras e confortáveis para propor mudanças, sugerir melhorias e novas ideias, independente do cargo, tempo de atuação ou de formado. Muitas vezes, as melhores ideias surgem das pessoas que menos esperamos.
Não estamos falando de permitir ou ser conivente com erros grosseiros ou que ponham o cliente em risco, mas de ajustes operacionais no formato da equipe ou do escritório. É importante que todos se sintam confortáveis de expor suas ideias e que elas sejam acolhidas pelo restante da equipe.
Mas uma coisa é certa: de nada adianta implementar as mudanças acima, se não mudarmos a forma com que enxergamos o mundo e as pessoas à nossa volta.
A mudança começa de dentro.
Sempre.
¹ Disponível em: <https://www.leadersleague.com/pt/news/serie-especial-burnout-no-mercado-juridico-parte-1>
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