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REFERÊNCIA Ben-Gal é o fundador do projeto Digital Living 2030, uma parceria entre as universidades de Tel-Aviv e Stanford (Foto: )
Na década passada, era relativamente fácil prever o futuro da inteligência artificial (I.A.): a tecnologia chegaria ao cotidiano de pessoas e empresas, e isso de fato aconteceu. Imaginar a próxima década é bem mais complicado. É certo que ela estará em todo lugar, mas como? Esta é a pergunta de US$ 1 milhão — aliás, de vários bilhões. Para respondê-la, Irad Ben-Gal fundou o projeto Digital Living 2030, uma parceria entre a Universidade de Tel-Aviv (TAU), em Israel, e a Universidade Stanford, no Vale do Silício, os dois principais hubs de tecnologia do mundo. Chefe do laboratório de Análise de Negócios e Inteligência Artificial da TAU, Ben-Gal é autor de quatro livros e mais de cem patentes e artigos científicos sobre o tema. Em visita ao Brasil, a convite da Associação de Amigos Brasileiros da Universidade de Tel-Aviv, ele identificou sete tendências da inteligência artificial. Na próxima década, afirma, a tecnologia vai se tornar mais natural. Em vez de receber ordens objetivas de programadores, será capaz de escutar perguntas subjetivas, vindas de pessoas comuns, e de defender suas sugestões com argumentos claros.
“A I.A. está evoluindo a ponto de enxergar grupos cada vez menores. O exemplo claro são os humanos. Há muito tempo é possível prever quantas cadeiras serão vendidas em um determinado mercado, mas é muito mais difícil saber a chance de uma determinada pessoa comprar uma delas. Isso requer conhecimento sobre o indivíduo — seus hábitos, preocupações, localização, o seu contexto. E a inteligência artificial também está tornando possível isso — e muito mais. Pode-se dar um zoom na pessoa. Prever o funcionamento de seu organismo, as respostas dos neurônios… O mais importante no big data não são os grandes grupos, mas, ao contrário, a granularidade. Enxergar profundamente cada indivíduo do grupo.”
“Os carros ficavam ociosos cerca de 80% do tempo, até que a Uber — ou o Airbnb, no mercado imobiliário — aumentou o aproveitamento ao conseguir ligar, com agilidade, oferta e demanda, graças à inteligência artificial. Esses dois exemplos são apenas o começo. Existe potencial em áreas como educação, comércio e alimentação. Hoje, 50% da comida do planeta vai para o lixo — quando se trata de alimento fresco, o percentual é ainda maior. Existe fome e existe desperdício, porque o matchmaking ainda é ineficiente. Startups serão capazes de fazer análise granular da oferta e da demanda, além de aumentar a inteligência na distribuição.”
“Até hoje, o ‘dilema do trenzinho’ [em que somos convidados a escolher entre deixar um trem seguir seu caminho e atropelar cinco pessoas, ou desviar para outro trilho, onde matará apenas uma] foi um exercício meramente teórico. Na prática, ninguém julga a decisão de um maquinista — apenas se ele tinha treinamento, se estava sóbrio, se cumpria as normas de segurança. O panorama muda conforme robôs assumem a condução de máquinas como trens, carros e aviões. Desviar ou seguir em frente deixa de ser uma escolha individual, tomada num momento de pânico, para ser uma programação elaborada por filósofos, advogados e engenheiros. Mesmo se a máquina tomar uma atitude randômica, essa aleatoriedade também terá sido uma deliberação. Por causa da inteligência artificial, pela primeira vez humanos terão de decidir quem deve viver ou morrer.”
“Os humanos ainda são muito melhores que a inteligência artificial ao identificar relações de causa e efeito. Veremos muitos esforços de cientistas para dotar as máquinas de autoconsciência e abstração, para lidar com questões abertas. São habilidades muito humanas, estranhas aos computadores.”
“A inteligência artificial já é bem melhor que os humanos em resolver tarefas definidas ou que envolvem enorme quantidade de dados. Mas não é boa para trabalhar em equipe: o computador diz que um produto é ideal para certo consumidor, mas não explica os motivos. É uma caixa-preta: a pergunta entra por um lado e a resposta sai pelo outro, sem justificativas. Apresentar argumentos será útil para participar de discussões com humanos em torno de problemas que não têm resposta objetiva. A Inteligência Artificial Explicável, ou xAI [na sigla em inglês], tenta traduzir suas respostas para a língua dos homens. Ao mesmo tempo, procura o caminho inverso: entender o que as pessoas dizem, para incorporar ao processamento de dados. Em vez de desempregar humanos, como se teme hoje, na maior parte dos casos a inteligência artificial tende a se tornar um mediador para facilitar trabalhos em grupo.”
“Veremos um grande aumento em inteligência artificial voltada ao bem-estar. A tecnologia está sendo usada em gerenciar o trânsito das cidades, grandes estoques ou para conhecer os padrões de consumo de cada cliente. Essas habilidades serão empregadas para gerenciar a vida pessoal. Programas vão responder e-mails, chamadas telefônicas, gerenciar o congestionamento de informações. Vão monitorar o seu organismo e reagir — não apenas para manter a saúde, mas também para proporcionar satisfação. Conheço pelo menos duas startups que monitoram todas as informações e os sensores do seu smartphone. Ao identificar padrões de atividade ou mudanças no tom da voz, essas empresas recomendam descansar um pouco ou procurar atendimento médico. Com lembretes e sugestões, ajudam a manter uma atividade física, a cultivar hobbies, a cuidar da família. O monitoramento permanente pode parecer aflitivo, mas acho que ele pode acabar conhecendo você melhor do que ninguém. Sei de pelo menos uma startup que trabalha com pacientes em reabilitação médica — como aqueles passando por terapias de recuperação da fala. O médico recebe um relatório muito mais completo do que o que seria possível produzir apenas durante a consulta.”
“A inteligência artificial tende a acabar com muitos empregos, mas isso não significa, necessariamente, que teremos mais desempregados. Os trabalhadores estão trocando empresas tradicionais, com estrutura física e equipe própria, por empresas virtuais — aquilo que a professora Melissa Valentine, de Stanford, chamou de flash organizations. A inteligência artificial favorece o surgimento de grupos de trabalho ad-hoc, criados em torno de um projeto. Dezenas ou centenas de freelancers desempenham uma tarefa específica — e o computador gerencia prazos, pagamentos e a integração das diferentes contribuições. O profissional faz apenas a sua especialidade, em várias empresas ao mesmo tempo.”
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