A AB2L iniciou suas atividades em 2017 e, desde então, escreve os capítulos de uma história que tem muito para contar sobre o ecossistema de tecnologia jurídica.
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Programas para educar o mercado, fomentar o ecossistema e participar ativamente do processo de regulamentação brasileiro entre direito e tecnologia.
Capítulos regionais/locais exclusivos para associados e grupos abertos ao público em geral.
Leo, Júlio, Maria e Elsa são quatro estudantes que moram na mesma república em Ouro Preto. Como em quase toda república espalhada pelo Brasil, é uma guerra na hora de saber quem vai lavar as vasilhas sujas de Miojo. Os estudantes tentaram implantar um sistema de revezamento, mas foi um fracasso felomenal: Júlio é o maior malandro, Leo distraído, Maria coincidentemente nunca está em casa na sua vez de lavar as vasilhas. Elsa é maior cri-cri e toda vez que tem visita pra jantar na vez dela lavar a louça ela argumenta que ficou em desvantagem, que trabalhou mais que os outros e quer descontar o trabalho extra na outra semana. No fim ninguém entra em acordo e é a senhoria que tem que decidir com mão de ferro quem vai lavar as vasilhas.
Pra resolver a este problema a senhoria teve uma ideia simples, porém genial: ela inventou de dar fichinhas coloridas a cada um dos estudantes (cada estudante com sua cor) e construiu um longo tubo transparente e indestrutível que ela chumbou ao chão da sala (tá bom, a ideia não era tão simples assim, mas vai seguindo o raciocínio).
Quando um estudante termina de lavar as vasilhas ele deposita uma fichinha no tubo pra ficar registrado que ele cumpriu com sua parte no revezamento. Pra evitar trapaças só é possível colocar uma fichinha no tubo se três dos quatro estudantes estiverem presentes, pois na tampa do tubo tem quatro cadeados onde cada estudante tem a chave para um deles.
Cada fichinha só pode ser colocada no tubo com o consentimento de pelo menos mais dois estudantes, que só permitem que isso aconteça depois de checarem que a pessoa realmente lavou as vasilhas e deixou a cozinha limpa. Como o tubo é inviolável e indestrutível, cada fichinha vale como registro eterno de que aquela louça foi lavada naquele dia. E basta uma olhadinha no tubo pra saber quem é o próximo a ter que lavar as vasilhas. É o tubo da verdade!
50% dos cadeados já permitem que se coloque uma fichinha no tubão
Infelizmente, o sistema só funciona se todos forem honestos. Se dois dos estudantes resolverem agir de má fé e se recusarem a abrir seus cadeados pro cara que acabou de lavar as vasilhas, o sistema deixa de funcionar. Agora, esse risco seria diminuído se morassem nessa república 1000 estudantes em vez de 4, pois as chances de que 50% estivessem agindo de má fé cairiam consideravelmente.
Mas claro, um tubo com 1000 cadeados na sala seria impraticável. Onde a galera vai dormir no carnaval? E se a gente pudesse usar a tecnologia pra utilizar este mesmo princípio no mundo virtual?
Bom, essa tecnologia existe e se chama blockchain. O blockchain nada mais é que um grande arquivão, consultável e transparente como nosso tubo, onde a gente pode “empilhar” registros da mesma maneira que os estudantes de Ouro Preto empilhavam fichinhas. A estes registros nós damos o nome de blocos. E à essa cadeia de blocos damos o nome de…. blockchain! Tchãrã!
Eita tubão bão®, que dá a volta ao mundo registrando tudo
Assim como acontecia com as fichinhas no tubo, uma vez um registro é adicionado ao blockchain ele não pode ser retirado nunca mais, passa a ser verdade eterna e absoluta! (claro que no Brasil eventualmente vai aparecer algum juiz querendo apagar registro de blockchain por ordem judicial, quem viver verá!)
Naturalmente isso aqui é uma simplificação e a realidade tecnológica do blockchain é muito mais complexa, envolve criptografia, resolução de problemas matemáticos complicados, redundância da cadeia, etc. Mas conceitualmente o funcionamento do blockchain é semelhante ao do nosso tubão, que, trabalhando na base do consenso permite aos estudantes eliminar a necessidade de se confiar às cegas uns nos outros ou de depender de uma autoridade central. Pense por exemplo na principal aplicação do blockchain hoje em dia, que é viabilizar a existência de criptomoedas como o Bitcoin. Nessas moedas, cada operação fica registrada no blockchain, eliminando assim a necessidade de uma instituição financeira central validando cada transação.
Bitcoins e moedas virtuais não são as únicas aplicações do blockchain. Sua natureza transparente e descentralizada, somadas à sua capacidade de prover informação irrefutável e irreversível permitem diversas aplicações como por exemplo gerenciamento de propriedade (pense se a escritura de sua casa ficasse registrada em um blockchain — seria o fim dos cartórios!), confirmação de identidade/documentos, validação de votos, enfim, qualquer lugar onde você precisa de um registro confiável de informações.
Na próxima quinta, dia 1º de setembro, no Le Wagon Brasil, vamos bater um papo (regado a cerveja) sobre o assunto. Venhão. E se estiver lendo isso depois dessa data, siga a gente no Meetup pra ficar sabendo de outros eventos semelhantes.
O Le Wagon, pra quem não sabe, é um bootcamp intensivo de 9 semanas que dá às pessoas criativas as ferramentas técnicas necessárias para eles tirarem suas ideias do papel. Interessou? Temos turmas em BH, RJ e SP.
Este texto é um trabalho derivativo do original em francês, publicado com autorização dos autores sob licença CC BY 3.0 FR. Agradeço a eles pela autorização e também a meus sócios Mathieu e Pedro pelos help!
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