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Criptomoedas e Blockchain – O que o mercado brasileiro pode esperar para 2021

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O ano de 2020 será lembrado como um dos mais difíceis das sociedades contemporâneas: países e populações inteiras tiveram que enfrentar lockdowns e crises econômicas, os mercados financeiros ainda sofrem com os graves impactos da recessão econômica e centenas de milhares de vidas foram levadas pelo COVID-19.

Apesar disso, outros setores foram impactados de outras formas durante a grave crise sanitária global – que ainda parece distante de terminar, mesmo com as vacinas começando a ser distribuídas nos países ricos: as economias se digitalizaram radicalmente, os ativos de proteção econômica atraíram desconfiança, e o mercado de criptoativos teve um de seus anos mais importantes desde 2009 – ano de lançamento do Bitcoin.

De fato, o mercado de criptomoedas e blockchain se destacou diante de uma crise que não poupou quase nenhum setor: fundos de criptomoedas estão entre os mais rentáveis no ano, o Bitcoin e as maiores altcoins parecem prontos para novas máximas históricas, as criptomoedas DeFi chegaram prometendo uma nova era financeira, grandes instituições e investidores dos mercados financeiros definitivamente alocaram investimentos no Bitcoin e a tecnologia blockchain quebrou barreiras no setor financeiro e em cadeias de produção dos mais variados setores.

Diante de um ano de profundas mudanças, o que esperar para o futuro? O Cointelegraph Brasil convidou alguns dos maiores especialistas de criptoativos e blockchain do país para traçar os próximos passos para o mercado.

Mercado de Criptomoedas

O mercado cripto viveu um ano de extremo otimismo – ou ganância, como comprovou o Fear and Greed Crypto Index durante o ano. Se o Bitcoin chegou a um fundo expressivo perto de US$ 3.800 em março, agora vai terminar o ano quase pronto para vencer sua máxima histórica em US$ 20.000. No Brasil, a moeda já anotou um novo recorde histórico em novembro, quando chegou a R$ 106.000.

O especialista do Cointelegraph Markets Marcel Pechmann destacou o bom comportamento do mercado, mesmo diante dos revezes sofridos no ano:

“O mercado de Bitcoin e Ethereum se desenvolveu em 2020 como jamais havia se imaginado. Não só em termos de volume de negociação, preço, ou do aporte de investidores renomados como Paul Tudor Jones, e Stanley Druckenmiller. Tivemos, por exemplo, o Departamento de Justiça dos EUA processando a BitMEX – na época a maior exchange de derivativos – o hack de US$280 milhões da KuCoin, e nada disso afetou o mercado.”

Pechmann também lembra que a corrida DeFi de 2020 fez explodir os custos de transação na rede Ethereum, mas não impactou os ânimos do mercado. O CEO da OriginalMy, Edilson Osorio, concorda com o futuro promissor do setor DeFi, mas prega cautela com as fraudes:

“Este é um mercado experimental e muito promissor, mas que deve ter atenção redobrada por causa de grupos mal intencionados aplicando golpes e fraudes em geral. Por ser um mercado muito novo, as plataformas podem ter problemas com hacks, e devido à grande centralização existente (mesmo com muitas plataformas se apresentando como descentralizadas), existe ainda o risco de fraudes.”

Além dele, Pechmann também exalta as inovações e diz que elas devem se aprofundar ainda mais em 2021:

“As sucessivas inovações, que incluem Taproot, Schnorr e Lighting Network no Bitcoin, além do próprio lançamento da fase 0 do Ethereum 2.0, abrem caminho para a próxima onda, com aplicações cada vez maiores, escaláveis, e interligadas com as finanças tradicionais. A prova cabal? A gigante Fidelity oferecendo empréstimos com garantia em criptomoedas.”

Para o mercado brasileiro, Edilson Osorio aposta no mercado de tokenização, que já é explorado pela maior exchange cripto do país, o Mercado Bitcoin. Segundo ele, 2021 será um ano de “amadurecimento do mercado de security tokens”, e completa:

“Os protocolos existentes começam a ser bem vistos pelos reguladores, já que a maioria deles prevê maior participação e visibilidade por parte do próprio regulador e permitem a mitigação de diversos riscos inerentes a esse mercado. Nessa corrida, existe uma grande chance do Brasil ganhar destaque pois o regulador local (CVM) estabeleceu um sandbox regulatório e os primeiros projetos já começam a se mobilizar para terem suas aplicações rodando em um ambiente mais seguro juridicamente.”

O diretor de operações da QR Asset, João Paulo Mayall, diz-se otimista sobre o mercado de tokenização em 2021, mas também destaca o papel dos reguladores para a expansão do setor:

“Acredito que o futuro é a tokenização de ativos, debêntures, precatórios, dívidas do governo. O Brasil está muito avançado em seu sistema bancário e teremos muitas surpresas neste setor, por isso estou muito otimista. Porém, não adianta a gente que é do setor acreditar nisso e o governo e as autarquias, não. E a tokenização é um mercado de bilhões, mas falta a infraestrutura. A inovação chegou na frente dos reguladores, mas acho que eles estão abertos a ouvir e trabalhar nesse sentido. Eu acho que [a regulamentação] vai acontecer no ano que vem, até antes de março de 2021.”

A especialista em blockchain pelo MIT e colunista do Cointelegraph Brasil, Tatiana Revoredo, defende que a adoção cripto no Brasil – que viu sua moeda derreter em 2020 – deve se intensificar, com o Bitcoin se afirmando novamente como ativo de proteção econômica:

“Acredito em um aumento de interesse dos brasileiros, com consequentemente incremento no mercado brasileiro, com papel de destaque para o Bitcoin sendo adotado como ativo de proteção.”

Investimento Institucional

O investimento institucional foi destaque em 2020, chegando finalmente à criptoesfera, e promete mais um ano de alta em 2021. Segundo Rodrigo Borges, membro fundador da Oxford Blockchain Foundation, os grandes aportes de Bitcoin por investidores institucionais – que chegaram a comprar mais BTC do que a capacidade de produção das mineradoras – devem se intensificar em 2021. Ele analisa:

“Em relação ao Bitcoin, eu imagino que haverá um aumento na procura por investidores institucionais, possibilitando o surgimento de novos produtos com exposição ao Bitcoin. […] Vejo 2021 como um ano de consolidação e forte desenvolvimento do setor.”

Já para Tatiana Revoredo, a custódia de criptomoedas por instituições financeiras tradicionais – como já é possível nos EUA – e a adoção de stablecoins serão as chaves deste próximo ano:

“No setor financeiro, veremos aplicações para custódia de criptoativos sendo lançadas no Brasil, com possível participação do mercado tradicional. E se os aspectos regulatórios permitirem, as stablecoins terão papel expressivo no mercado brasileiro, com o volume de negócios podendo quadruplicar de tamanho.”

CBDCs e governos nacionais

A digitalização das economias colocou a discussão sobre as moedas digitais de banco central (CBDC) no centro dos debates das autoridades financeiras em todo o mundo. Um dos países que entrou definitivamente nesta corrida foi a China, que já faz testes reais do yuan digital no país. Seu principal rival geopolítico, os Estados Unidos, anunciou que por enquanto não pretende digitalizar o dólar, mas já vê cobranças internas por não acompanhar a liderança chinesa no setor.

Mesmo o Banco Central do Brasil também se pronunciou algumas vezes sobre a transformação do real em uma moeda digital – embora não haja planos concretos para isso no curto prazo.

Edilson Osório diz que a União Europeia deve entrar na briga em breve, acelerando ainda mais a corrida global pelas CBDCs:

“Embora a China pareça estar liderando a corrida das CBDC (Central Bank Digital Currency), outros países também começam a se movimentar nesse sentido. Entre eles a Estonia, que recentemente iniciou uma consulta interna para o lançamento da sua moeda na versão digital. Particularmente acredito que na Europa deva acontecer um movimento mais abrangente e organizado nesse sentido, visto os incentivos promovidos pela União Européia.”

Muitos especialistas tentam prever os impactos das CBDCs nas economias – uma das principais preocupações dos reguladores econômicos. Os governos – que em grande parte estudam a adoção de blockchain em seus processos públicos – devem entrar também no debate sobre privacidade e a digitalização do dinheiro, diz Tatiana Revoredo:

“No setor governamental, a previsão é o crescimento de aplicações [de blockchain] em registro de documentos e aplicações de saúde, bem como uma maior preocupação, por parte da população, quanto à relação entre privacidade e CBDC.

As empresas de meios de pagamento também devem acompanhar de perto essa inovação:

“Quem deve estar mais atento a esses movimentos são os meios de pagamento, como o PayPal e seus semelhantes. Estes terão que olhar profundamente para os seus modelos de negócio tão logo os governos começarem a emitir suas moedas por meio digital.”

Blockchain

Os governos também têm visto a tecnologia blockchain com bons olhos. No Brasil e na América Latina, várias entidades estatais já usam a tecnologia para certificar documentos, entre eles aduanas e cartórios de notários. Grandes empresas também já adotam blockchain para certificar a produção, com casos de uso que só devem crescer daqui para frente.

Rodrigo Borges diz que a aceleração da adoção de blockchain por grandes empresas e governo pode impactar positivamente os criptoativos:

“No âmbito da tecnologia blockchain, vejo o desenvolvimento de interessantes soluções, com envolvimento cada vez maior de players tradicionais, especialmente nos setores financeiro e agronegócio, o que poderá resultar no aumento de liquidez a certos ativos.”

A especialista em blockchain Tatiana Revoredo concorda, e destaca especialmente o avanço da tecnologia sobre o setor agro:

“Houve um avanço significativo no agrobusiness, com utilização na identificação de dispositivos (drones, por exemplo), integração com IoT e inteligência artificial para conferir maior confiabilidade e certificar qualidade da produção agrícola”

Já Edilson Osorio defendeu a emergência do mercado blockchain em 2020 e para o futuro breve:

“Quando olhamos para os avanços do blockchain com aplicações além da moeda digital, vemos um mercado crescente na área de identidade digital descentralizada, inclusive com a aproximação de governos. Temos visto movimentos em governos no US e Japão, interessados em modernizar seus modelos de governança digital. E a pandemia com certeza ajudou a acelerar e avançar as discussões sobre o assunto ao redor do mundo, por entender que a digitalização de serviços analógicos e tradicionais é uma necessidade.”

Vanessa Almeida, Gerente de Inovação Digital do BNDES BlockchainLab, acredita que a tecnolgia blockchain terá grande aceitação no país em 2021:

“Acredito que 2021 será um ano muito movimentado para os temas criptoativos, enterprise blockchains e blockchain como plataforma. No tema dos criptoativos, terminamos o ano com o Bitcoin em alta, atraindo a atenção de investidores institucionais. No tema enterprise blockchains, o aumento do interesse nas questões ambientais e o entendimento por parte das empresas de que rastrear cadeias de valor pode se tornar vantagem competitiva, trazem investimentos em novos projetos nesse segmento. Além disso, projetos que se baseiam no conceito de Blockchain como plataforma vem ganhando atenção, tendo sido tema de um dos painéis do Fórum Global Blockchain da OCDE. No Brasil, o projeto Rede Blockchain Brasil vem avançando, com liderança do BNDES e patrocínio da Secretaria de Modernização do Estado. O próximo ano promete mudanças.”

Outras tecnologias também disruptivas e ligadas ao criptomercado também podem ganhar espaço. O fundador da IOTA, Serguei Popov, completa a análise em entrevista com exclusividade ao Cointelegraph Brasil:

“A IoT permeia cada vez mais o nosso cotidiano, integrando as máquinas que utilizamos, como no caso de lâmpadas inteligentes ou até mesmo carros com capacidade de pagar o pedágio de forma wireless. Algo latente é que esta tendência deve tomar proporções ainda maiores no ano de 2021, como resultado do nosso isolamento social ocasionado pela COVID-19. Por outro lado vemos um empenho grande de diversos segmentos industriais nacionais, em especial do agronegócio, buscando cada vez mais inserir sensores de ponta-a-ponta em sua cadeia para produzir informações de negócio, o que torna inclusive os consumidores finais potenciais fornecedores de dados. Neste contexto, uma plataforma DLT como o Tangle, pode liderar a infraestrutura necessária à este segmento com a capacidade de microtransações e sobretudo na entrega de modelos com maior segurança e privacidade nos processos, atendendo as novas regras impostas pela Lei Geral de Proteção de Dados.”

Fonte: Cointelegraph

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